Crítica
Ouvimos: Jensen McRae, “I don’t know how but they found me!”
Tem algo de Taylor Swift na música de Jensen McRae – ainda que a influência não seja óbvia e as duas personagens sejam bastante diferentes em quase tudo, mas as motivações até que se parecem. Jensen é uma criadora de conteúdo que também compõe e faz discos, um tipo de artista ao qual provavelmente todo mundo vai ter que se acostumar nos próximos anos: ela faz podcast, posta vídeos, tem newsletter no Substack e é bastante atenta à sua própria vida – tão atenta que sabe que muita coisa que ela vive pode virar conteúdo, texto, música.
Quase da mesma forma que Taylor se acostumou a transformar sua vida em pop confessional, Jensen vem se acostumando a levar seu dia a dia para seu som (que por acaso é bem próximo do soft rock, do folk e de qualquer estilo que renda canções de rodinha de violão). Daí um monte de ex-namorados escrotos acabam sendo brindados com as letras autobiográficas (ou autoficcionais) de I don’t know how but they found me!, segundo álbum de Jensen.
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Vá lá que algumas (poucas) letras de Jensen chegam a assustar de tão ingênuas. The rearranger é um soft rock que bate fundo naquela velha história do macho que tem uma ficante para cuidar dele e não promete nada a ela. I can change him é soft pop batido na guitarra (melodia boa, por sinal) com Jensen apostando que vai promover mudanças na mente do namorado cabeça-dura.
Savannah, um pop-folk gostosinho e deprê, e Let me be wrong, country rock que abre com batida marcial a la U2, já lidam com emoções “de gente grande”, e escolhas que precisam ser feitas na hora que têm que ser feitas – e deixam marcas. I don’t do drugs, por sua vez, é uma balada espirituosa sobre um namoro que só acabou para uma das partes: “eu gostaria de culpar as drogas, mas não uso drogas / é uma fera que jurei que havia dominado / me curei, mas voltei”. Massachussetts, outra canção de dor de cornx e pé na bunda, tem aquela mesma cara de rock estradeiro e country que costuma dar certo nos dias de hoje – acabou viralizando no Tik Tok bem antes do disco sair. O alt-country Daffodils é uma cápsula do love bombing, do abuso nos relacionamentos.
O som de Jensen é fácil – extremamente fácil, o que não quer dizer que seja ruim, pelo contrário. É de fácil identificação, vai na correnteza do que vem dando certo, e traz a contação de histórias pessoais, ao lado da filiação pop-rock-folk, como principal arma. Dá pra dizer que tudo poderia ter virado crônicas para a newsletter dela, mas os textos ganharam acordes e melodias e escaparam da camisa-de-força do “conteúdo”. Se não ouviu ainda, corra atrás.
Nota: 8
Gravadora: Dead Oceans
Lançamento: 25 de abril de 2025.