Crítica

Ouvimos: Fontaines DC, “Romance”

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  • Romance é o quarto álbum da banda irlandesa Fontaines DC, formada por Grian Chatten (voz), Conor Curley, Carlos O’Connell (ambos guitarra), Conor Deegan III (baixo) e Tom Coll (bateria). A produção é de James Ford (Foals, Arctic Monkeys, Haim, Simian Mobile Disco, Last Shadow Puppets).
  • O álbum marca a estreia da banda no selo XL Recordings. O material do disco começou a ser formalizado num grande quadro branco, que o grupo usou para despejar ideias. Num momento, o Fontaines DC tinha cerca de 35 músicas em consideração, variando de gravações de telefone de 22 segundos a melodias finalizadas.
  • Das músicas do disco, a preferida de Chatten é In the modern world. “Eu me lembro do momento em que essa música chegou a um ponto; eu arranjei as cordas e outras coisas no meu laptop em casa, no meu apartamento. Depois que eu ouvi e fechei o laptop, eu pensei, ‘ah, é isso que eu tenho tentado fazer por cinco anos’. Eu sempre quis escrever uma música que soasse como se Lana Del Rey pudesse cantar nela, sabe?”, disse à Vogue.

Tem algo (de bom) acontecendo em algumas bandas da geração mais recente, já que grupos como Idles e o próprio Fontaines DC estão abandonando uma certa faceta monótona que aparecia em seus discos iniciais. E, progressivamente, vão percebendo que sem excelentes canções não se faz um excelente disco.

No caso do Fontaines, sempre houve coisas bem legais no pós-punk da banda irlandesa, mas os dois primeiros discos ainda não reuniam um conjunto de canções que desse vontade de escutar o álbum várias vezes. A coisa mudou no gótico Skinty fia (2021), disco aprofundadíssimo nas histórias do país de origem do grupo.

Romance, disco que une esperança e distopia em poucos minutos, é o melhor lançamento do grupo, e mostra que o Fontaines DC está trabalhando na mesma direção que bandas como Oasis e Blur trabalhavam nos anos 1990, com o bom e velho objetivo de tentar fazer cabeças, mover mundos e quem sabe, lançar um futuro clássico.

Talvez seja o bom e velho conflito de geração, ou coisa da idade – da minha e da deles. O Fontaines DC é formado por caras que nasceram nos anos 1990 e todos tiveram a infância marcada por grupos que a minha turma, a nascida nos anos 1970, já conheceu adulta. Grian Chatten, o vocalista, que lançou um bom disco solo ano passado, Chaos for the fly, disse que na infância chegou a ficar assustado com o Korn.

Romance tem influências de hip hop e nu metal até mesmo no esquema de produção, em faixas como a suingada e pesada Starbuster (primeiro single do álbum) e a punk e gótica Here’s the thing. Nessa última, a banda podia se limitar a copiar bandas de shoegaze e emo, assim como em Desire, mas optou por criar universos sonoros bem diferentes, como se a ideia fosse dar uma assinatura “de idade” para os músicos. In the modern world é a balada orquestral e invernal do disco, e Bug insere um lado mais ligado ainda ao brit pop no álbum.

De modo geral, Romance indica MUITO que David Bowie, Oasis, Beck e até Paul Weller estão na playlist do Fontaines DC, e que o grupo vem se aproveitando de todas as suas influências para criar um som próprio. Que surge bastante também na segunda metade do álbum em baladas soturnas como Motorcycle boy e Horseness is the whatness, no tom pós-punk de Favourite, na suingada e apocalíptica Sundowner. E na tentativa de reimaginar os Pixies como uma banda britânica, em Death kink. Talvez daqui a dez anos todo mundo esteja lembrando muito de Romance, o que é ótimo.

Nota: 9
Gravadora: XL Recordings.

 

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