Crítica
Ouvimos: Astrid Sonne, “Great doubt”
- Great doubt é o terceiro LP da cantora dinamarquesa Astrid Sonne. Todas as músicas foram compostas e produzidas por ela. Astrid tem formação clássica e toca viola, mas migrou para o reino da composição pop.
- “As letras do álbum são esparsas, apenas destacando diferentes cenas ou estados emocionais do ser, deixando a música preencher as lacunas. No entanto, elas também formam um padrão de ambiguidade, consolidado pelo título do álbum, buscando respostas por meio da observação de como e o que você está perguntando, perguntas para o mundo, perguntas de amor”, diz o release do disco.
Great doubt é um disco de art pop, ponto. Se a gente for pensar num som experimental, e próximo do rock, Astrid Sonne segue a linha de grandes nomes como Brian Eno e Robert Fripp — artistas que misturavam música clássica, ambient, pop experimental, psicodelia e uma boa dose de experimentação sonora. É essa vibe que Astrid traz para o disco, conduzindo o ouvinte por diferentes atmosferas a cada música. Logo na abertura, com Light and heavy, ela combina flauta e cordas de forma hipnotizante.
O título da faixa não é por acaso: Astrid busca criar uma sensação de peso em sons que, à primeira vista, parecem flutuar. É o que acontece em Do you wanna, que começa com uma vibe eletrônica de rock e logo se transforma em um progressivo de piano e cordas. A mesma energia aparece em Give my all, com suas batidas r&b e o piano suave, e em Almost, que abre com sons de koto japonês e segue para um lugar espacial e romântico. Como cantora, Astrid tem um tom quase jazzístico, sempre introspectivo e sempre intenso, especialmente em faixas como Almost e na letra de Do you wanna?, que toca num tema bastante delicado de forma bem direta (“Você quer ter um bebê?/realmente não sei”, ela questiona e ela responde).
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Alguns momentos do álbum têm aquele toque “eletrônico” de décadas passadas. Staying here, por exemplo, tem um clima progressivo, quase como uma releitura do pop dos anos 70, e termina com uma pegada psicodélica. Everything is unreal lembra o Kraftwerk, mas com um toque mais orgânico — começa com uma batida sombria e segue com uma letra falada, até se transformar numa mistura de cordas e ritmos quase orientais. Boost, por sua vez, começa com uma onda de synths, bem misteriosa, e depois mergulha num r&b experimental, com um interlúdio ambient no meio.
No final, duas surpresas: Overture começa com um riff de violão bem acústico, e quando as cordas entram, lembra uma orquestra se aquecendo antes do show começar. E para fechar o disco, Say you love me traz uma mistura de jazz, bossa nova e dub, em tom levemente psicodélico.
Nota: 8
Gravadora: Escho
Lançamento: 26 de janeiro de 2024.