Crítica

Ouvimos: Ana Cañas, “Vida real”

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Fazer uma turnê e um disco em tributo a Belchior mudou a vida de Ana Cañas – a cantora e compositora vinha de alguns discos que não renderam sucesso o suficiente, foi colocada de volta no mainstream, ganhou mais fãs e viu chegar uma nova lenda pessoal para o seu trabalho.

Vida real, disco novo, tem ar de relato de todas essas experiências, envolvido num pop-rock adulto com muitas referências de Rita Lee e Ney Matogrosso. E, sintomaticamente, dá super certo quando Ana tenta soar mais visionária e existencial, da mesma forma que Belchior soava, ou que Rita e Raul Seixas soavam. Isso rola na faixa-título do disco, uma balada com ar de talking blues, com versos como “senti o amor das pessoas que muito têm / porque não possuem nada / e eu vi a mulher da vida vivida / me estender a mão”. Acontece também no bittersweet de Cicatriz, pop acústico folk, triste e ótimo; no clima quase grunge da estradeira Vai passar; e no pop-rock jovem, funkeado e feminista de Toda mulher é além (esta, com versos como “meu cabelos são cor de fogo / eu sou braba e o mundo é louco”).

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Esse clima também paira sobre Derreti, com participação de Ney Matogrosso, e com prosódia musical de quem viveu a MPB dos anos 1990 e 2000 (tem algo de rap nas linhas vocais da faixa, inclusive), e sobre o feminejo de Amiga, se liga, com Roberta Miranda. O lado mais romântico do disco, de Quero um love e Brigadeiro e café (essa, com participação de Ivete Sangalo) é que soa meio repetitivo, precisando de um retrabalho – são músicas que serviriam bem como temas de novela, pensados para personagens específicas. Nando Reis ressurge no repertorio de Ana com a (boa) gravação da mediana O que eu só vejo em você.

No final, Vida real fecha o ciclo com a bela Do lado de lá, uma canção triste feita por Ana para o irmão que morreu em 2013. É a hora de Ana Cañas se conectar cada vez consigo própria e com sua história, potencializada pelos últimos movimentos em sua carreira.

Nota: 8
Gravadora: Soul Rica Records
Lançamento: 4 de abril de 2025.

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