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Luiz Lopez: rock visceral em turnê e disco

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Quando a banda Filhos da Judith se dividiu em duas partes, os irmãos Pedro Dias e Luiz Lopez, mesmo continuando unidos no trabalho na banda de Erasmo Carlos (ambos acompanham o Tremendão há oito anos), foram montar seus projetos. Pedro produziu o Fuzzcas e montou a banda TopVox e Luiz foi gravar solo. O primeiro disco, “Primal” e o primeiro single, “Vai”, já chamavam a atenção não apenas pelo som (quase um power pop à carioca, influenciadíssimo por Beatles com boas canções) como também pelos vocais de Luiz. Em várias músicas, o cara berra tanto quanto John Lennon na gravação de “Twist and shout”, feita pelos Beatles. Olha aí “Vai”, single que não foi (sem trocadilho) para nenhum disco de Luiz.

“Parece que eu tô pedindo socorro”, brinca o músico, que soltou no ano passado seu segundo disco, “Visceral”, produzido por ele mesmo e lançado pelo selo Toca Discos. O disco ainda tá precisando rodar o Brasil e vêm mais shows por aí – nesta quarta (22), às 21h, é a vez do Teatro Sérgio Porto, no Rio de Janeiro. No palco, Luiz (voz, guitarra, piano), Alan James (voz, baixo) e Rike Frainer (bateria) tocam as músicas dos dois álbuns e o cantor surge com a mesma interpretação visceral (sem trocadilho) dos discos. E ainda gravou as batidas de seu coração numa faixa.

Luiz, você sai das gravações, ensaios e shows com a garganta doendo muito? Bom, eu passei boa parte da minha vida buscando cantar numa linha mais pro lado da afinação do que pro lado da interpretação, até porque canto com o Erasmo e pra fazer backing vocal você tem que manter a afinação. Mas quis cantar de maneira não-convencional. Tem show que eu saio cansadaço. Em “Eu não quero desacreditar” parece que tô pedindo socorro!

Na letra de “Eu não quero desacreditar”, aliás, tem um verso que fala “apesar da minha cor/apesar de onde eu vim/eles têm que me aceitar/eles têm que me engolir”. Você já se sentiu discriminado? No Brasil, a minoria das pessoas é de raça ariana e mesmo assim rola preconceito, de que você é muito escuro pra fazer rock, ou o preconceito de “pô, você ainda tá nessa de música?”. Quando eu estava escrevendo a letra, pus “apesar da minha dor/apesar de onde eu vim” e coloquei logo “apesar da minha cor”. Era isso que eu estava querendo escrever, quis escrachar a verdade. Vim de uma família muito humilde e isso aparece também em “O otimismo de quem não tem nada”, que é a penúltima música. O disco trata de momentos reais que eu vivi e graças a Deus consegui passar isso na interpretação das músicas. Em “Eu não quero desacreditar” a gente tava até com dificuldade de gravar, porque a gente queria gravar o som do meu coração. Esse bumbo que você ouve na música é o som do meu coração.

Sério? A música é toda guiada pelas batidas do meu coração. Quando a gente teve a ideia, pensamos em chamar um médico, com um aparelho desses de medicina pra resolver essa parada. Mas falei: “Vamos tentar gravar com o microfone”. Encostei o microfone no peito e não saiu nada. Aí corri pela casa, fiz exercícios, dei pulos e quando estava batendo muito forte e eu estava ofegante, tentei de novo. E o microfone captou. Esse disco é cheio dessas coisas, que as pessoas vão descobrindo só no decorrer. A primeira faixa, “Vai passar”, tem umas ondas psicodélicas, e uma mensagem secreta em código morse no final.

E o que diz a mensagem? Ah, não vou revelar, não, é secreta! Só quem entende código morse vai entender.

Luiz (E), o irmão Pedro e os amigos da banda de Erasmo: prontos para subir no palco no festival Psicodália, em fevereiro (foto: reprodução do Facebook)

O disco tem um instrumental chamado “1995 São Cristóvão” que tem até funk no meio. Como surgiu essa ideia? Eu fiz essa música e não sabia onde colocá-la no disco. Eu nunca nem tinha feito música instrumental na vida. E depois veio essa ideia de colocar a batida de funk e ficamos: “Caramba, onde essa música vai entrar?”. Pensei até em abrir o disco com ela, mas fechamos o disco e ela já dá uma pista da liberdade dos próximos trabalhos. O título tem significado. Em 1995 eu morava em São Cristóvão (bairro da Zona Norte carioca) e lá só rolava funk. Foi meu primeiro contato com a música. Eu ouvia aqueles caras cantando aquela batida e pensava: “Eu acho que eu quero fazer música. Quem sabe eu não vou ser funkeiro?” Foi o funk que me despertou. Mas no ano seguinte me apresentaram ao “Anthology” dos Beatles e descobri que queria era fazer rock, e aí foi.

E como você vê o Erasmo depois desse tempo todo acompanhando o Tremendão pelos palcos? Amigo de fé, irmão, camarada, chefe, professor, mestre… É tudo isso aí. É meu chefe, meu amigo. Já passamos bastante da coisa profissional pra virar um lance de companheiro. Ele se sente à vontade pra fazer comentários mais pessoais às vezes, é como se a gente sempre estivesse ali para fazer algo seríssimo, mas sempre tivesse espaço pra relaxar. Ele é um ser de luz, cara. Dificilmente você vê o Erasmo com uma energia ruim. Sabe aquele tipo de artista que depois de tanto tempo dá graças a Deus por causa de cada palco, cada dia e cada pessoa que gosta do trabalho dele? É o Erasmo.

E olha “Visceral” aí!


Foto: Divulgação/Jardel Muniz

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