Crítica

Ouvimos: Gelli Haha – “Switcheroo”

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RESENHA: Gelli Haha (ou Angel Abaya, seu nome verdadeiro) estreia com Switcheroo, um synthpop psicodélico, pop circense e debochado, cheio de referências anos 70-90.

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Gelli Haha na verdade se chama Angel Abaya, é uma cantora norte-americana – ela nasceu em Boise, Idaho, e hoje vive em Los Angeles – mas cuja família veio das Filipinas. Seu nome artístico é mais do que um nome artístico: é uma reencarnação artística. Angel tinha um começo de carreira no folk com seu nome verdadeiro, e largou tudo em prol de uma persona synthpop, circense, colorida ao extremo e ligeiramente psicodélica – um ligeiramente que às vezes soa como a TV brasileira dos anos 1980/1990 embebida em LSD, ou como o início da MTV Brasil.

Assumidamente influenciada por Kate Bush e Bjork (e por “funk, boogie e disco experimental do final dos anos 70/início dos anos 80”, como ela disse em entrevistas), Gelli mostra bem mais do que isso em Switcheroo, estreia do projeto. Angel e seu parceiro Sean Guerin (De Lux) evocam Prince, Sparks, Devo e Giorgio Moroder nas lisérgicas e giratórias Funny music, Spit, Normalize e no pop hi-NRG de Tiramisu.

Gelliverse lembra a fase tecnopop do Queen e o inicinho de Madonna. Dynamite, decorada com um sample de ataque de urso, texturiza o tecnopop e a house music dos anos 1980/1990. A gozada Pluto is not a planet it’s a restaurant investe em dance music psicodélica e espacial. Bounce house vai pro lado do rock newavizado e pós-disco, mas sem maluquices vintage – tudo parece ter sido feito em 2025.

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Não dá para negar, com todas essas referências e credenciais, que Gelli entra na festa sabendo como divertir o público, seja lá qual for esse tal público. Ainda mais porque as letras de Switcheroo são zoeira e sacanagem total. Spit tem seu ritmo dado por palavras com a letra S (em português: “semeie / esgote / chupe / beije / estale”, e depois “renda-se”). Piss artist lembra a ocasião em que Angel/Gelli fez xixi numa vasilha decorativa, durante uma festinha drogada que virou suruba (e sim, a história é contada com pegada de comediante).

Zoeira e sacanagem até quando o assunto se torna sério – tipo em Normalize, que une doenças e termos como “homofobia” e “pedofilia”, ao lado da frase “eu quero voar para longe”. Já Johnny, tecnopop com ligeiro ar brega, fala de uma amizade bem estranha (“Johnny é meu melhor amigo, como isso aconteceu? / nos conhecemos em uma seita e depois fomos sugados”).

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Innovative Leisure Inc
Lançamento: 27 de junho de 2025.

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