Crítica
Ouvimos: Firefriend – “Blue radiation” / “Fuzz”
RESENHA: Firefriend lança dois discos: Blue radiation, com drones e colagens sonoras, e Fuzz, garage rock sombrio entre Velvet Underground e Stooges.
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A banda paulistana Firefriend lança agora dois discos ao mesmo tempo, que soam como álbuns complementares. Blue radiation é o mais surpreendente e desconcertante deles: foi gravado ainda na época da pandemia, na garagem da banda em São Paulo, e expande o rock de garagem de Julia Grassetti (baixo e vocais), Ricardo Cifas (bateria), Pinhead (synths e teclados) e Yury Hermuche (guitarra e vocais) para outros lugares, bem mais estranhos. Boa parte do repertório é formado por drones assustadores criados com guitarra, baixo e bateria, e por colagens sonoras.
Behavioral futures market começa com um barulho que lembra as cordas rangendo do fim de Magic pie, do Oasis – e prossegue numa vibe ruidosa e misteriosa, que pega também os ruídos de Excess, a segunda música. Daí para a frente, a vibe de Blue radiation lembra um desdobre lo-fi dos improvisos de Electric ladyland (1968), de Jimi Hendrix Experience, ou o clima quase sobrenatural de Persona (1975), aquele disco feito para acompanhar o jogo de mesmo nome da Grow.
Unexpected visitor tem sons misteriosos no canal esquerdo, e jazz tocado na guitarra no direito. Interzone e Fire eyes são basicamente acid rock passado num filtro pós-punk – um pós-punk que foi ouvir Módulo 1000 em vez de Public Image Ltd, diga-se. Blue radiation e Into the black hole têm atmosfera fantasmagórica lembrando Tangerine Dream.
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Fuzz, o outro do Firefriend, é basicamente um disco de rock garageiro e perigoso, às vezes na cola do Velvet Underground e dos Stooges, às vezes com raízes em Black Rebel Motorcycle Club e My Bloody Valentine. Spearhead, na abertura, tem a manha tanto do rock de garagem quanto a do doom metal. Hologram é associada ao lado mais trevoso do britpop, com metais que dão sensação de estranhamento e distorções como parte da melodia. Kill switch é o lado pré-punk e glam rock do grupo. Raw violence é psicodélica e introspectiva, mas tem algo de energia beatle na melodia.
Já Decreaton facts e Apophis representam fielmente a tal união de Velvet e My Bloody que está nas raízes do disco. Uma surpresa é Most natural painkiller, que tem algo de Oasis e The Verve, mas passando pelo filtro maldito e garageiro do grupo. Ouça os dois em sequência.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8 (Blue radiation) e 8,5 (Fuzz)
Gravadora: Independente
Lançamento: 4 e 5 de setembro de 2025 – Blue radiation e Fuzz, respectivamente