Crítica
Ouvimos: FBC – “Assaltos & batidas”
RESENHA: Em Assaltos & batidas, FBC revisita o boombap com peso político e samples clássicos, criando um retrato urbano e combativo do rap mineiro.
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Rapper, cantor e produtor mineiro, FBC tem uma discografia variada, que vai do mergulho no funk em Baile (feito com Vhoor, 2019) à house music e ao boogie, explorados no magistral O amor, o perdão e a tecnologia irão nos levar para outro planeta (2023, resenhamos aqui). Sem esquecer o rap de ouvidos abertos de S.C.A. (2018) – disco cuja capa parodia a arte de INRI, estreia do grupo mineiro de black metal Sarcófago (1987).
O novo Assaltos & batidas tem papel parecido com o de MPC (Música Popular Carioca), álbum de funk do produtor Papatinho. É um álbum colaborativo, que vai na história do rap brasileiro ao abordar um design musical diretamente relacionado ao som ouvido pelos fãs do estilo no fim dos anos 1980 e começo dos 1990. Segue o ritmo do boombap (bumbo-e-caixa) em praticamente todas as faixas, abrindo com o jazz-hip hop de Cabana terminal, que logo ganha beats e refrão em coral. Prossegue com as linhas vocais fortes de Quem sabe onde está Jimmy Hoffa?, com o “la-ra-ra” zoeiro de Qual o som da sua arma?, com o clima anima-plateias de A voz da revolução, a vibe sombria de Roubo a banco, e por aí vai.
O som de Assaltos & batidas relaciona-se bastante com o começo de Pavilhão 9 e Racionais MCs – não por acaso, há samples do clássico Sobrevivendo no inferno (1997), destes últimos. Leva também um pouco do idioma de grupos como N.W.A. para o rap mineiro, e juntando isso tudo, torna-se um manual sonoro de vida nas ruas e de revolução. O Jimmy Hoffa de Quem sabe… dá calote em traficantes e sua família é que sofre. A voz de revolução, entre samples de jazz, batidas e refrãos de guerra, irradia a luta contra o capitalismo e a ditadura militar.
Você pra mim é lucro traz a foice e o martelo para o rap, com sample da Internacional comunista, e versos como “a jornada seis por um é mortal / mais que qualquer outro distúrbio mental”. E um dos trechos mais significativos do filme Rede de intrigas, de Sidney Lumet, surge na bizarra (no bom sentido) A cosmologia corporativista do senhor Arthur Jansen, que encerra o álbum. Além disso, um pouco do começo do Planet Hemp também aparece em faixas como Estamos te vendo – que lembra os vocais sacanas de BNegão e fala sobre o proceder na vida cruel em tempos modernos.
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Sem falar na capa em HQ que mistura símbolos da guerrilha: o Minimanual do Guerrilheiro Urbano de Carlos Marighella, As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano, e o BluRay de Rede de intrigas, com o cenário do Howard Beale Show – quem viu o filme, sabe – ali no canto.
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Assaltos & batidas gerou também um curta-metragem, que você vê ali embaixo – e do qual falaremos depois.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Xeque Mate Estúdios
Lançamento: 6 de junho de 2025