Crítica
Ouvimos: Coral Grief – “Air between us”
RESENHA: No álbum Air between us, o Coral Grief une dream pop e indie rock com lirismo e ironia à moda britânica, criando um retrato doce e crítico da Seattle pós-grunge.
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Tudo que o rock de Seattle precisava (e estou falando sério) era de uma banda local que tivesse um olhar quase britânico – irônico e contemplativo simultaneamente – para a cidade e sua música. Vindo justamente da terra do grunge, o trio Coral Grief explora tais possibilidades fazendo um som entre o dream pop e a agitação sonora dos filhos do Velvet Underground. Só que com rapidez e clima doce, este último garantido pelas tramas melódicas do grupo e pela voz de Lena Farr-Morrissey, cantora, baixista e letrista.
No disco Air between us, o Coral Grief não aponta para esqueletos dentro do armário nem para perguntas que a cidade precisa responder – mas faz questão de mostrar que quem não vai a Seattle desde a época em que Kurt Cobain mal tinha saído da vizinha Aberdeen vai ter que consultar o Guia Rex. Lembrando uma cruza de Stereolab e Joy Division, a banda fala das mudanças no maior distrito comercial da cidade (Avenue you), por exemplo. Também confessa que às vezes é duro encarar como até o lugar que você chama de “lar” é tão inconstante (a lenta e sonhadora balada Latitude).
O Coral Grief também queixa-se do fim da Everyday, uma das mais populares lojas de discos da cidade (na balada sonhadora Almost everyday), reclama que o comércio capitula diante do próprio capitalismo que o amamenta (Mutual wish, que lembra The Cure e a Legião Urbana do disco As quatro estações) e conceitualmente inicia o disco com uma balada dream pop que fala sobre como não podemos controlar nada (Starboard).
Musicalmente, o som do Stereolab parece uma grande referência para o grupo, em faixas como Air between us, a espacial Paint by number, a nostálgica Late bloomer e a bossa de gringo Outback. Como indie rockers militantes, deixam a sujeira tomar conta de vários momentos – Rockhounds tem cara de R.E.M. azedo e The landfall soa como um Pixies mais sonhador e introspectivo. Mas o principal para o Coral Grief é ser um contraponto à tristeza associada a Seattle – a capa traz o avô de Lena numa aventura radical, e o som promete esperança e entrega.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Suicide Squeeze Records.
Lançamento: 18 de junho de 2025