Crítica

Ouvimos: Vitor Brauer – “Tréinquinumpára 06: Porto Velho”

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RESENHA: Vitor Brauer leva seu projeto Tréinquinumpára a Porto Velho, misturando piseiro, tecnobrega, noise e humor ácido em parceria com artistas locais.

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Mais conhecido pela sua presença na formação de uma das bandas mais desafiadoras do brasil – o Lupe de Lupe, cujo disco mais recente, Amor, resenhamos aqui – o mineiro Vitor Brauer tem uma carreira solo paralela que segue na mesma missão-visão-valores de sua banda. Ou talvez o próprio Lupe de Lupe tenha muito de seu projeto individual.

Tréinquinumpára 06: Porto Velho é o sexto álbum de uma série de discos em que Vitor dá uma de nômade musical e criativo: ele passa três meses numa capital e grava um álbum numa delas. A ideia é que a série dure dez anos – já se passaram dois. Dessa vez, ele se bandeou para Porto Velho (RO) e interagiu com nomes da cena rondoniense, como Tuer Lapin, Ramon Alves e Quarto Mudo.

O sexto Tréinquinumpára é uma viagem musical ao Norte do país, mas sob a visão de Vitor, que faz quase um pagode noise-rock em Não se apaixone por mim, cuja letra, de tão romântica e desesperada, soa bem humorada: “eu não tenho casa / eu não tenho dinheiro / eu só tenho essa minha jornada / isolado num lugar que não é meu (…) / meu futuro está sempre tão longe / não desperdice sua vida comigo”. Piseiros e tecnobregas tomam conta do disco em faixas como o shoegaze nortista Você me machucou (com batidinha eletrônica e dor de corno abissal na letra) e Pelo amor de deus, amiga, que põe a sofrência feminina na ordem do dia.

O barulho puro toma conta em alguns momentos, como na vibe caótica de João 13:8 (que lembra Captain Beefheart and His Magic Band), na moda noise-rock Porto Velho radiator springs e na porradaria de Franklin Richards – esta, quase um filhote de Sonic Youth e Suicide, cuja letra, toda falada, prega: “as tecnologias a favor do tempo livre / acabaram com o tempo livre / o pobre cada vez mais pobre / o rico cada vez mais rico / o jovem cada vez mais burro / o velho cada vez mais velho”. Completam a viagem a sofrência raiz de Auxílio à lista (cover do sertanejo Nelson Rossy) e a balada grunge desconstruída de Blurzinho.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 29 de julho de 2025

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