Cultura Pop

Um tornado que foi parar em três capas de discos

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Em 8 de julho de 1927, Lucille Handberg fotografou um tornado perto de Jasper, cidade nos condados de Pipestone e Rock, no estado de Minnesota, Estados Unidos. Não era um tornadinho qualquer (bem…). O fenômeno ganhou página dupla no Illustrated London News, elogiando bastante a imagem de Lucille (“a melhor fotografia de um tornado já tirada”, diz a matéria).

Lucille, então uma estudante, viu o tornado a 6,4 km a oeste de Jasper, quando ele estava a cerca de 1,6 km de distância. Segundo o site Phenomena, não havia nem barulhos nem relâmpagos, e o bicho “se movia muito lentamente, quase em ritmo de caminhada, cobrindo três quilômetros em cerca de 20 minutos”. E apesar do aspecto assustador, ele nem chegou a provocar danos enormes – destelhou algumas fazendas e destruiu alguns moinhos de vento, nada mais. A fotógrafa arriscou bastante sua vida, de qualquer jeito, mas acabou fazendo duas fotos. A segunda foi a que se tornou mais conhecida, reproduzida em livros, reportagens, etc.

E também apareceu em três capas de discos. O primeiro e um dos mais conhecidos é Bitches brew, o monumental disco duplo do jazzista Miles Davis, de 1970, no qual o tornado aparece retocado e misturado a várias imagens, num trabalho feito pelo pintor Mati Klarwein – de quem a gente já até falou aqui no POP FANTASMA. Num artigo bem interessante, a revista Esquire afirmou que a ilustração de Mati “sugere a criação (ou destruição) de mundos e histórias, de reinterpretar como vemos os limites , sejam eles sociais, políticos ou musicais”, e que até mesmo a maneira como a crítica enxergaria o disco está ali, de certa forma.

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Em 1974, saiu mais um disco em que aparecia o tornado de Lucille na capa. Mas, mais uma vez, ele aparecia retocado e com uns acréscimos. Foi na capa de Stormbringer, nono álbum do Deep Purple e segundo disco da segunda formação da banda, incluindo o vocalista David Coverdale e o baixista/cantor Glenn Hughes. Foi um disco bastante controverso na história do grupo. O guitarrista Richie Blackmore abandonou o Deep Purple logo depois dele, reclamando da direção mais funky que a banda vinha tomando. O Deep Purple fez mais uma tentativa com o excelente disco Come taste the band (1975), apresentando Tommy Bolin na guitarra. Mas depois disso, sumiu por nove anos. Muito embora tenha aparecido um falso Deep Purple no período em que a banda andava desaparecida.

Demorou mais um pouco para a foto de Lucille voltar: ela reapareceu em 1986 na capa de Tinderbox, disco de Siouxsie and The Banshees, e foi igualmente bastante vista nesse álbum, que fez bastante sucesso, inclusive no Brasil (era o que tinha Cities and dust). A diferença é que a imagem não tinha sido muito retocada dessa vez – pelo menos não de modo a parecer uma imagem de fantasia. E o tornado aparecia seguindo para a mesma direção em que seguia na foto original. O álbum também marcava algumas mudanças na banda, que focava cada vez menos em experimentalismo. Robert Smith, que tocava guitarra no álbum anterior, Hyaena (1984), saiu para focar 100% em sua principal banda, The Cure.

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