Cultura Pop

Um dia de trabalho normal na Hipgnosis

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As capas surrealistas de discos da empresa Hipgnosis nem sempre acertavam na mosca – Jimmy Page, por exemplo, odiou a primeira ideia da empresa para o disco Houses of the holy (1973), de usar uma raquete de tênis (!) para representar a música do Led Zeppelin. Quase sempre dava certo, e o resultado sempre era algo que agregava um tom cool, bacana, moderno e viajandão ao som da banda ou do artista. Ou às vezes saía algo no estilo maior-que-a-vida, como a vaca da capa de Atom heart mother, do Pink Floyd (1970) ou a foto do prédio de Physical graffiti, do Led Zeppelin (1975). Ou mesmo a ovelha num divã de psicanalista, em meio a uma praia com ondas enormes (!!), na capa de Look hear?, álbum do 10cc (1980).

Essa brincadeira-que-virou-coisa-séria tinha sido criada por dois estudantes de design de Cambridge (Inglaterra), Storm Thorgerson e Aubrey Powell, que precisavam de um job para pagar as contas e, um dia, foram abordados por uns amigos da mesma universidade, uns tais de Pink Floyd, que precisavam de uma ideia legal para a capa do seu segundo disco, A saucerful of secrets (1968).

A Hipgnosis foi se destacando por um detalhe básico: os projetos da turma não eram baratos. E capa de disco era geralmente um problema que as gravadoras queriam resolver da forma mais rápida e barata possível. Só que as próprias bandas procuravam a Hipgnosis, tida como uma empresa bastante criativa e inovadora. Os artistas (e as gravadoras) embarcavam nas loucuras dos rapazes e as capas custavam caro – mas agregavam tanto valor que valia a pena. A capa de Look hear?, por exemplo, custou uma pequena fortuna. E é ela que ocupa alguns minutos desse papo com Aubrey e Storm que alguém jogou no Vimeo – infelizmente sem legendas.

Justamente pelo fato do álbum do 10cc ser bastante comentado, o papo deve ter sido em 1980. Os dois avisam que custou realmente caro arrumar uma ovelha daquela cor e levá-la à praia, com aquela produção (“aquele mar, aquela areia rasinha”, dizem). A dupla de artistas não encontraria um sol, um mar e uma areia daquelas na Inglaterra, e a solução foi fazer a foto no Havaí, o que já fez com que os gastos aumentassem exorbitantemente (e, epa, como arrumar uma ovelha no Havaí?). Os detalhes eram importantes e não podiam ser criados em computador: era arrumar a melhor sombra, a melhor locação, os melhores personagens e as melhores histórias.

A capa de Deadlines, disco de 1978 dos Strawbs que tinha um coitado se afogando numa cabine telefônica, envolveu um mergulhador de verdade, de cabeça para baixo, no frio de dezembro. Um tempinho do vídeo é gasto mostrando o o “objeto” da capa de Presence, do Led Zeppelin (1976) e ambos os criadores da Hipgnosis dizem que sem humor não daria para fazer uma capa dessas. Aliás, não dava nem pra enfrentar o dia a dia: as dependências do estúdio eram uma zona, onde não havia sequer lugar para sentar, nem um banheiro que prestasse.

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