Cultura Pop
Um “60 minutes” sobre os rastafaris, em 1979, com Bob Marley
Em 1980, Bob Marley (1945-1981) esteve no Brasil a convite da gravadora Ariola. Fez uma visita ao Noites Cariocas, no Morro da Urca, jogou futebol com Chico Buarque (“os jamaicanos jogam engraçado, aos pulos”, chegou a falar Chico), fumou maconha com Moraes Moreira, mas nada de shows – proibidos pela ditadura, que mal e porcamente havia ouvido falar que “um cantor que defende a maconha vem aí”. Se você quisesse encontrar um sujeito andando na rua com uma camisa de Bob Marley, ou com uma camiseta nas cores do rastafarianismo, ou uma menina usando dreads, ia ter que ralar um bocado. Fãs de reggae faziam parte de um círculo de iniciados, quase como foi a onda de música cubana entre os anos 1990/2000 – a propósito, fiz uma matéria sobre a vinda de Bob Marley ao Brasil para a Rolling Stone certa vez.
O rastafarianismo, religião professada por Marley, não era evidenetemente um assunto conhecido aqui. Mas mesmo “lá fora”, era uma tema “novo” e “instigante” a ponto de merecer um documentário do célebre programa 60 minutes (o Globo Repórter da emissora americana CBS, gravado e exibido em 1979. No vídeo abaixo, alguém subiu a reprise do programa, levada ao ar depois da morte de Bob Marley. O rei do reggae dá vários depoimentos no filme e é apresentado não apenas como um cantor de sucesso, mas como o “profeta” de uma forma diferente de religião (o vídeo tem legendas automáticas em inglês e português).
A religião de Bob Marley parecia algo estranho na época, mesmo. O documentário vale como registro histórico, embora tenha furos evidentes, especialmente ao falar que o movimento religioso nasceu em “missas negras” nos guetos jamacaianos – não necessariamente, já que na década de 1930 um homem chamado Leonard Howell, tido como “o primeiro rasta”, pregava numa comunidade chamada Pinnacle, criada especificamente para abrigar o movimento religioso, e para tornar-se um local autosustentável para africanos. Boa parte do dinheiro do local vinha das plantações de marijuana. Não tão lembrado como outros ícones do rastafarianismo, Howell era um líder carismático que brigava contra o sistema colonial e a supremacia branca. Seja como for, o filme do 60 minutes (que tem só 15 minutos) vai fundo em várias histórias e elementos musicais, e dá uma luz ao mostrar o que muita gente não sabe: reggae não é só festa, vida comunitária, sol, surfe e maconha. É política e história, em doses altíssimas.