Crítica

Ouvimos: Tropical Fuck Storm – “Fairyland codex”

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RESENHA: O Tropical Fuck Storm lança Fairyland codex, disco caótico e sarcástico que mistura Frank Zappa, Melvins, Tom Waits e ecos de Pink Floyd.

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Vindo da Austrália, o Tropical Fuck Storm é uma banda que se alimenta da estranheza – e que a cada disco, dá uma incrementada em seu próprio departamento de maluquices sonoras. Fairyland codex, quarto álbum do grupo, soa na maior parte do tempo como uma mescla entre os projetos doidões de Mike Patton e o som destrutivo de bandas como Melvins. Também dá para estabelecer comparações com Frank Zappa e Captain Beefheart.

As letras não ficam nem um pouco atrás: o Tropical Fuck Storm decidiu zoar com a categoria das pessoas que não são porra alguma e acham que são alguma porra – em Dunning Kruger’s loser cruise, uma canção para crianças psicodélicas, cujos versos zoam aquele famoso efeito (Dunning Kruger) que faz com que seres humanos medianos superestimem suas capacidades. Goon show lembra Tom Waits cantando um tema de desenho animado, e fala sobre uma sociedade “de atores em crise (…) fazendo pornografia de miséria para aquecer os corredores de hera”.

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Já a faixa-título, um folk maníaco de oito minutos, lembra Kenny Rodgers doidão ou David Bowie depois de estraçalhar a garganta (você escolhe). Os versos são a mais pura desesperança no porvir: “Deus pode enviar uma pedra do céu / sim, o mundo inteiro está às portas da morte agora / e eles estão abrindo a fechadura / mas o aluguel não está ficando mais barato”. Há algo que associa o som do Tropical Fuck Storm com Velvet Underground (a desértica Stepping on a rake), Jefferson Airplane (Bye bye snake eyes) e até com uma versão stoner do Pink Floyd (Moscovium, que encerra o disco à base de distorções e microfonias). Mas não são referências óbvias.

Uma pista dos descaminhos do TFS está no fato de eles homenagearem um dos produtores mais bizarros da história da música pop, Joe Meek (1929-1967). Joe Meek will inherit the Earth é uma das músicas mais bonitas do disco – uma espécie de loop eletrônico que depois se transforma num quase-reggae. Na letra, a bondade performada da burguesia vira pó: “nuvens de cinzas queimam nossos olhos / cantando: ‘a caridade começa em casa’ (…) / se você está se perguntando onde é que tudo deu errado / venha e veja”.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Fire Records
Lançamento: 20 de junho de 2025

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