Cultura Pop
TONTO, o sintetizador-monstro dos discos de Stevie Wonder, demonstrado
Um cara que assistiu a um dos vídeos abaixo resume bem: “Queria ser uma mosca na parede para ver o momento em que Stevie Wonder e Weather Report usaram isso para fazerem seus álbuns dos anos 1970”. Isso, no caso, é o TONTO. Ou The Original New Timbral Orchestra, o maior sintetizador analógico do mundo, um semicírculo com vários teclados que ocupa um espaço inteiro. E que deixou Stevie Wonder extremamente entusiasmado na fase da carreira dele da qual falamos no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento.
A tecladeira começou simplificada na mão do produtor Robert Margouleff, que se juntou com o produtor, músico e engenheiro Malcolm Cecil. O sintetizador, que vinha várias unidades originais da Moog, ganhou teclados ARP e Oberheim, foi sendo aumentado, recriado de forma a que fosse mais fácil de operar (tão fácil de operar quanto uma aparelhagem enorme dessas pudesse ser) e virou “multitimbral”, o que “significa que cada nota que você toca tem uma qualidade de tom diferente, como se as notas viessem de instrumentos separados”, diz Cecil.
O TONTO deixou Stevie Wonder achando que podia fazer de tudo – até gravar todos os instrumentos num disco e criar riffs diversos. Não foi apenas em discos como Music of my mind e Innervisions que ele apareceu. Ele também surgiu na “sala eletrônica” do musical de terror O fantasma do paraíso, de Brian de Palma.
A novidade é que tem vídeos de Malcolm Cecil, que hoje é o único dono do TONTO, falando do equipamento. O synth foi reformado em 2017 e hoje faz parte do National Music Centre, no Canadá. Cecil diz que o mais legal do equipamento é que ele dá uma perspectiva meio jazzística pro trabalho. Traduzindo: a variedade de timbres é tão grande que muitas vezes você mal tem ideia do tipo de som que vem por aí. Da mesma forma que não foi apenas Stevie que trabalhou com a tecladeira (Gil Scott Heron e Brian Jackson posaram ao lado dos teclados na capa do LP 1980), tem gente nos últimos tempos que sonhou em contar com a sonoridade do TONTO e conseguiu. Foi o caso do grupo canadense de música étnica e eletrônica A Tribe Called Red.
Tem mais um vídeo, esse feito justamente pelo National Music Centre, onde o TONTO é apresentado detalhe por detalhe, incluindo uma demonstração – isso vale uma nota pra quem ama teclados e suas possibilidades – de onde partiu cada teclado. Cecil explica igualmente porque é que o visual de cada baia de teclados é curvo (sim, o design da parada não foi bolado à toa) e diz que como não sabiam o que viria no futuro – nem que o futuro seria miniaturizado – muito espaço foi sendo aproveitado na máquina.
A propósito, vai um adendo ao roteiro do podcast: a parceria entre Stevie e a dupla da TONTO encerrou sim, nos anos 1970. Mas em discos posteriores como a trilha do filme Febre da selva, de Spike Lee (1991) e Conversation peace (1995), o cantor voltou a trabalhar com ambos como colaboradores, em separado.