Cultura Pop

Tom Zé e David Byrne no Jornal da Globo, em 1989

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O momento em que muitas pessoas de uma vez só ficaram sabendo da ligação entre Tom Zé e David Byrne já está no YouTube. Em 1989, o ex-líder dos Talking Heads foi até a Bahia filmar o documentário Ile Aiyé (The house of life). Em Nova York, antes de vir, tinha escutado o disco Estudando o samba, lançado por Tom em 1975 e logo que chegou ao Brasil, começou a querer saber como fazia para “encontrar esse tal de Tom Zé”. O contato entre os dois – que gerou a contratação de Tom pelo selo de Byrne, Luaka Bop, e o reconhecimento após vários anos – foi mostrado por Mauricio Kubrusly em 1989 no Jornal da Globo. Que, vejam só, era apresentado por Eliakim Araújo por aqueles tempos.

A visita de Kubrusly começa com ele mostrando semelhanças entre a vinheta Omotesando, dos Ambitious Lovers, banda de Arto Lindsay (é do disco Greed, 1988) e a vinheta Toc, do Estudando o samba. Byrne tinha aproveitado o encontro com o baiano para lhe dar uma fitinha com uma dedicatória: “Tom Zé, obrigado por sua música e inspiração”.

Se hoje o que mais tem é artista gringo reconhecendo artista brasileiro, nos anos 1980 isso não era nada comum. O que levou Kubrusly a perguntar a Tom como era inspirar um popstar de Nova York.

“É a hora em que a criança tem direito a falar na mesa, né? Eu nasci num mundo em que a coisa mais maravilhosa era você também poder falar na mesa do jantar, na mesa dos adultos. E agora eu também pude ter uma fala na música dos adultos”, confessou o músico.

Pouco tempo antes da redescoberta de Tom Zé, o cantor andava em crise. Tinha pensado em voltar para sua cidade, Irará (BA), para tomar conta do posto de gasolina da família. E por “crise”, entenda-se crise de verdade.

“Eu estava tão confuso na minha vida que isso só tem explicação na psiquiatria. Como chama aquele negócio que a cabeça racha e você não sabe o que pensa de lá e de cá? Esquizofrenia. Ser afastado do colo da mãe, um artista ser afastado do colo do público… Fiquei doente de todo jeito, estive para morrer três ou quatro vezes. Não tinha doença, era a cabeça que enrolava. Em 85, não digeria nada. Ficava em pé para enganar Neusa (sua mulher), para ela pensar que eu estava vivo. Estômago, intestino, nada funcionava, tudo deteriorado, a pele da mão apodrecendo, alergias. Fui à macrobiótica, me curei com dez dias de arroz”, disse Tom Zé a Pedro Alexandre Sanches na Folha de S. Paulo em 2000.

E abaixo, David Byrne, muitos anos depois da descoberta de Estudando o samba, fala de Tom Zé. É um trecho do documentário Fabricando Tom Zé, de Décio Matos Junior (veja inteiro aqui).

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