Crítica
Ouvimos: These New Puritans – “Crooked wing”
RESENHA: These New Puritans explora sons de igreja em Crooked wing, criando um disco sombrio, belo e além do art rock, com clima progressivo e experimental.
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Jack e George Barnett, os irmãos do These New Puritans, são músicos bastante experimentais. Mas no caso de Crooked wing, o novo álbum, eles conseguiram dar vários passos além até mesmo do art rock que fizeram em discos anteriores, como no excelente Inside the rose, de 2019. A feitura do álbum novo envolveu gravações de campo em torno do som cheio de ambiência das igrejas – e algumas sessões foram feitas numa igreja na Áustria.
Aparentemente a música de Crooked wing envolve um questionamento: como transformar a sonoridade “de igreja”, com órgão, sinos, piano, corais e eco, numa experiência sombria, perturbadora e, às vezes, psicodélica? – muito embora o som do disco esteja bem distante da “psicodelia” como ela é de verdade, vale acrescentar.
Essa provocação musical surge em faixas como Waiting, a ambient Bells (em que sinos e pianos circulares dão o ritmo, e vocais são sampleados e usados como piano), a autoexplicativa A season in hell (som eletrônico, gótico e percussivo), o retorno de Waiting na última faixa, Return – e em praticamente todo o álbum.
- Falando em ambient e experimentações, conheça também BDRMM, Mike Gale, Motosserra, James Krivchenia e Eduardo Manso.
Crooked wing é um disco definitivamente belo, mas que escapa até do que quase todo mundo pode entender como art rock ou rock experimental – está mais para um som progressivo e climático, mas sem distinção de gênero. E para uma vibe camerística, que governa faixas como Industrial love song – com os belos vocais de Caroline Polachek.
Dando um equilíbrio, a meditativa e cinematográfica I’m already here pode ser colocada no escaninho do post-rock e o culto musical de Wild fields envolve percussão forte e brutal ao lado de climas synthpop. A faixa-título, por sua vez, é sombria e voadora – ganhando uma bateria marcial em seguida, e partindo para um desenho sonoro mais ligado ao pós-punk
No final, antes da volta de ciclo com Return, o These New Puritans promove uma viagem sonora com Goodnight. É um tema que inicia com certa magia sonora, de música meditativa, mas o bicho pega quando vozes distorcidas e sampleadas levam a faixa para um clima de sonho estranho – não um pesadelo de verdade, mas aquele acumulado de situações esquisitas do dia e lembranças que vêm num cozidão. Um disco de belezas e tensões constantes.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Domino Recordings
Lançamento: 23 de maio de 2025.