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The Who: “Who’s next” vai render uma caixa de dez (dez!) CDs

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O volume de coletâneas que o The Who lançou ao longo da carreira é bastante assustador – já até abordamos isso num textinho do Pop Fantasma certa vez. Em vários anos, a banda não lançou disco de carreira e limitou-se a soltar singles e alguns greatest hits de peso. Box sets também foram muito bem vindos e comemorados pelos fãs, em muitos momentos. Dessa vez, a banda se prepara para homenagear aquele que é tido por quase todo mundo como sendo seu melhor disco: Who’s next ganha em 15 de setembro uma caixa super-ultra-maxi-especial com dez CDs  e um blu-ray, perfazendo 155 faixas. 89 dessas faixas estavam inéditas até agora. O pacote também terá áudio espacial e mixagem surround.

(essa é a edição mais recente do disco)

A ideia da banda é que os fãs acompanhem a metamorfose que não apenas o Who teve naquele momento, como também um dos projetos mais instigantes da banda. Pete Townshend queria porque queria ultrapassar os limites alcançados com a ópera-rock Tommy (1969) e, para conseguir isso, nada melhor do que… fazer outra ópera rock. Que virou a pedra no sapato do músico por alguns anos, era considerada de difícil compreensão até pelos seus colegas de banda e acabou não sendo feita.

Hoje, Lifehouse, a ópera que deu origem a Who’s next, soa como uma ideia de jerico daquelas, que talvez a Inteligência Artificial ajudasse a resolver, só que não havia nada disso em 1970. Pete queria que o Who lançasse um projeto multimídia que incluía disco, filme e show interativo, e que falava sobre uma sociedade futurista (a ópera se passava em 1990) em que as pessoas eram absolutamente controladas por uma central de inteligência, o rock não existia mais e havia só pessoas que se lembravam da época em que o rock “salvava vidas”. A música (o rock, em particular) surgia como um catalisador, a partir de um local em que ela seria tocada (o Lifehouse). Isso é o que geralmente é entendido, inclusive pelo próprio Townshend, das encucações dele na época.

Com o tempo, não apenas Pete foi tendo dificuldades para explicar o conceito da ópera, como também os colegas de banda foram se cansando da ideia. Townshend foi claramente confundindo fantasia e realidade: queria levar o Who para ocupar o teatro Young Vic, de Londres, em meio a shows e trabalhos que envolviam a própria plateia como colaboradora, queria compilar dados do público para criar uma “nota musical especial” inspirada nas vibrações do público (haveria um computador que faria isso, naturalmente)…

Isso tudo aí deu foi em treta: Pete colapsou, brigou com colaboradores, a ideia foi provocando o adiamento de um disco novo a banda. Até que a banda decidiu largar tudo em favor do disco Who’s next, de 1971, que continua canções de Lifehouse tiradas de contexto e lançadas como faixas únicas do álbum. The song is over, última música do lado A de Who’s next, era pra ser o encerramento da ópera, com a polícia invadindo o teatro Lifehouse e mandando embora os frequentadores. O verso “a música acabou/exceto uma nota, pura e fácil/tocando tão livre, como uma respiração ondulando” fechava a canção, e dava a entender que Pete queria, mais do que tudo, lançar um disco que mostrasse a música como algo que pairava no ar, acima do espetáculo mercadológico que a indústria do vinil estava prestes a montar na época. Mas não estava dando muito certo, não.

E aí que quem tem curiosidade de entender o quebra-cabeças de Lifehouse  em 1971 vai ter novas oportunidades na caixa do Who. Dois dos discos da box set são intitulados Pete Townshend’s Life house demos 1970-1971. Outros CDs incluem um disco de gravações das sessões do Record Plant em 1971, dois discos de mixagens alternativas e shows ao vivo completos da época, que rolaram no Young Vic e no Civic Auditorium (esse, em San Francisco). O tal Blu-Ray, por sua vez, tem mixagens fodaralhásticas (Atmos e 5.1, em formato de 24 bits) realizadas por Steven Wilson, que remexeu recentemente em álbuns de Yes, Jethro Tull e Roxy Music.

Se você ainda não se satisfez, vale dizer que o material vem com um livro de capa dura de 100 páginas, contendo uma introdução de Townshend e ensaios de Andy Neil e Matt Kent, especialistas na banda. Um segundo livro de capa dura, Life house – The graphic novel, com 170 páginas, traz toda a história do projeto em quadrinhos. O box set tem também duas réplicas de pôsteres de shows, duas réplicas de programas de shows, um conjunto de buttons e uma foto colorida com réplicas de autógrafos. Sai tudo por 299,98 dólares no site da banda.

Existem versões menores para quem não pode pagar tudo isso: Who’s next chega em vinil remasterizado com cinco versões diferentes (um deles com cor de garrafa de Coca-Cola), e em CD duplo com o disco igualmente remasterizado, acrescido de um CD com momentos escolhidos das faixas inéditas. Há um box set de 4 discos com Who’s next e mais o show do Civic em três LPs. E uma outra caixa tripla com o risco remasterizado e dois LPs de demos de Lifehouse. Só não dá pra dizer que tem pra todos os bolsos, enfim. Mas a chance de conhecer Lifehouse quase como ele era em 1971, tá aí.

Olha aí uma foto do material.

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