Cultura Pop
The Living End: lembranças do Hüsker Dü ao vivo, em CD lançado em 1994
Quando você escutar The living end, CD “póstumo” da banda punk americana Hüsker Dü (lançado em 1994, uns bons seis anos após o fim do grupo), vai ficar assustado. E impressionado. O som é bom demais, parece que você está assistindo a toda a apresentação do palco mesmo, com todo o peso e qualidade sonora possíveis. O resultado mostra o quanto devia ser complicado para Bob Mould (voz, guitarra), Grant Hart (bateria, voz) e Greg Norton (baixo e voz) comprimirem todo o peso e melodia do som deles nas gravações em estúdio – as músicas de The living end são uma beleza de distorção e microfonia.
Na época, o trio estava divulgando o último disco, o excelente duplo Warehouse: Songs and stories (1987) e a lista de faixas reflete boa parte do que rolava nos shows deles na época. O repertório percorre toda a discografia da banda, passando pelo EP Metal circus (1983), pelo clássico Zen arcade (1984) e por vários outros álbuns. Os shows foram gravados em lugares como Washington (EUA), Toronto e Montreal (Canadá). Além de canções como New day rising, Ice cold ice, What’s going on e It’s not funny anymore, ainda há uma versão de Sheena is a punk rocker, dos Ramones.
The living end foi muito bem recebido pela crítica na época. E foi lançado, vale dizer, numa época certíssima. Por causa do sucesso do Sugar, banda nova de Bob Mould (cuja estreia Copper blue, de 1992, foi o álbum do ano para o New Musical Express), estava havendo uma onda de interesse pelo Hüsker Dü. Que, vale dizer, era uma banda que moldara o punk americano e costumava ser apontada como influência para grupos como Nirvana.
Mould, vale dizer, já deu entrevistas dizendo que nunca ouviu The living end. Mesmo com a qualidade e o valor para os fãs, o álbum surgiu de uma controvérsia entre ex-integrantes. Em 1993, Mould tinha sido procurado por um advogado do Minnesotta chamado Doug Myren, que representava o ex-colega Grant Hart, com quem ele já estava brigado havia alguns anos por razões extra-musicais. Doug, que também havia falado com Norton, queria propor uma mudança num acordo de porcentagem que havia entre Mould e Greg, que eram os produtores dos discos do HD, quando a banda foi para a Warner.
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“Os três tinham chegado a um consenso: o acordo de divisão de produção de 64% que eu e Hart tínhamos feito em 1985 não era justo, e eles queriam redistribuir o dinheiro de produção igualmente entre os três membros”, recordou Mould no livro See a little light: The trail of rage and melody. Mould, principal compositor o grupo, levava costumeiramente uns 15 mil dólares a mais que Hart a cada disco, nesse arranjo. Norton não costumava levar créditos de produção e não fazia parte do acerto.
“Nesse momento vi que o corpo estranho ali era eu: o legado e os negócios do Hüsker Dü estavam firmemente nas mãos de um advogado de uma cidade pequena e de dois ex-integrantes desapontados”. Pelo acordo novo, os três ex-colegas teriam 75 mil dólares para dividir pela grana de produção (a cada 200 mil discos do passivo das vendas pela Warner, pelo que Mould conta no livro).
Mould foi aconselhado pelo seu advogado Josh Grier a nem brigar e, segundo ele próprio, deixou que os livros de contabilidade fossem revistos. The living end serviu para fazer caixa na história e cobrir parte do que faltaria de grana. Myren, que ganhou um crédito de “coordenador de projeto”, ligou para Mould em busca de uma ideia para um título do disco. “Claro. Por que não chamamos o disco de O advance de 75 mil dólares?”, disse o músico. “Mas preferiram chamar o disco de The living end, mesmo”.
Ah, o POP FANTASMA já bateu um papo com Greg Norton certa vez. Leia aqui.
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