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Tem aniversário da estreia dos Charlatans vindo aí

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Daqui a pouco, dia 8 (também conhecido como esta sexta-feira) faz aniversário um disco importantíssimo do rock britânico dos anos 1990. A estreia do The Charlatans, Some friendly (1990), que por sinal, iria merecer uma boa comemoração de 30 anos em 2020, não fosse a chegada da pandemia. “Tínhamos alguns planos, mas eles mudaram algumas vezes e depois desapareceram completamente”, lamentou o vocalista do grupo, Tim Burgess, num papo com o site Gigwise.

Tim, ainda ostentando um belo penteado no estilo do Salsicha, do desenho do Scooby-doo (ficou famoso esse tipo de corte no auge do movimento Madchester, de Manchester, no qual os Charlatans foram inseridos), falou no mesmo papo que o clima era de alegria total no estúdio.

“Eu olho para trás com carinho, eu tinha vinte e poucos anos e trabalhava com meus melhores amigos. Nosso álbum de estreia foi para o número um e foi uma nova década com muitas novas esperanças”, afirmou. Mas a banda não achava que aquilo tudo fosse durar muito tempo. Não foi bem o que aconteceu: os Charlatans continuaram por aí e gravaram um disco novo, Different days, em 2017. Burgess soltou um disco novo ano passado, o excelente I love the new sky.

O tal clima “de carinho” não rolou na totalidade. A banda precisou mudar de nome fora da Inglaterra para Charlatans UK, por causa de um “xará” americano mais antigo (uma banda californiana de folk rock ativa na maior parte do tempo nos anos 1960). Durante as gravações do debute, o grupo teve desentendimentos com os donos do estúdio no qual gravaram (o The Windings, perto de Wrexham, País de Gales), tinha pouco repertório e precisou correr atrás para compor novas músicas que estivesse no nível do single The only one I know, que “pegou” nas rádios e virou hit chiclete da MTV (até mesmo no Brasil). E só foi incluída nas versões CD e K7 do álbum.

Olha ela aí servindo de trilha sonora para o “eu quero minha MTV” de David Bowie na inauguração da MTV Brasil em 1990.

Os Charlatans se notabilizavam pela mistura de dance music, rock dos anos 60, psicodelia e alguns toques de soul e R&B. Todos os músicos davam seus toques pessoais às faixas, mas é impossível lembrar dos Charlatans sem recordar os teclados (mellotron e órgão) de Rob Collins, e da argamassa de baixo e bateria de, respectivamente, Martin Blunt e Jon Brookes.

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Sem esses três, você provavelmente não estaria lembrando dos Charlatans como um grande exemplo da turma do Madchester, o movimento indie dance psicodélico de Manchester. Muito embora o grupo não tenha vindo da cidade e tenha sido agregado ao movimento por causa das semelhanças musicais com bandas de alcance até mais curto, como os Inspiral Carpets.

“Nasci em Salford e cresci em Northwich, Cheshire. Sempre adorei minha música e pensei que Manchester era o lugar onde me encaixava, mas queria provar que as pessoas dos subúrbios não eram idiotas. Então sempre deixei claro que os Charlatans eram de Northwich, embora isso não significasse nada para ninguém fora do noroeste”, disse ao The Guardian. “Um ano depois de eu me juntar aos Charlatans, tínhamos um álbum em primeiro lugar, mas parecia natural. Eu tinha apenas 23 anos e todos diziam: ‘Caramba, aconteceu muito rápido para você!'”.

Madchester foi um movimento importantíssimo, ocorrido num biênio (1988/1989) que chegou a ser chamado de Segundo Verão do Amor, com união total entre rock e dance music. Além de (claro) várias recordações da psicodelia, só que sob outro filtro.

As drogas, para começar, eram outras: o LSD ainda era usado, eventualmente, mas a turma preferia mesmo era a novidade MDMA. A moda, idem: a galera comprava calças baggy e camisas largas de manga comprida em lojas como a Identity. Esse tipo de vestimenta, aliás, dava um inevitável ar de cartoon àquela movimentação toda.

“Acho essa versão simplista e irritante”, reclamou ao The Guardian o consultor de marketing Gary Aspden. “Os dez anos anteriores ao acid house em Manchester viram várias modas que pegaram entre os jovens da classe trabalhadora do Norte, mas nunca haviam sido divulgadas pela grande mídia. E muito desse estilo se refletiu no que as pessoas estavam vestindo em Manchester em 1988/1989”.

Os Charlatans ainda gravaram outros grandes clássicos, e vale dizer, Some friendly nem é o melhor disco deles. Tellin’ stories (1997), feito em uma maratona de drogas, gravações e isolamento no Rockfield Studios, no País de Gales, ganha fácil essa marca, com canções como One to another, How high e outras. Tem ainda o aspecto dramático: o tecladista Rob Collins morreu em um acidente de carro no meio da gravação, deixando a banda perdida, e sem um dos nomes que mais lhe davam identidade.

Outras mudanças foram ocorrendo no grupo com o passar dos anos, deixando os Charlatans serem mais lembrados como um feliz exemplo do britpop do que propriamente da movimentação dance-psicodélica do começo dos anos 1990. E vale ouvir e conhecer todas as fases.

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