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Tao Jones Index: o pouco lembrado projeto drum’n bass de David Bowie

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Lembra do Tao Jones Index? Vamos por partes. Com tanta oferta de festivais, muita gente provavelmente nem sequer se lembra que existiu o Phoenix Festival. Bom, não apenas existiu como foi uma espécie de evento “alternativo” de verdade, realizado entre 1993 e 1997 na Inglaterra – e que servia como contraponto para festivais que começaram como “diferentes”, mas que já estavam começando a virar móveis-e-utensílios do mainstream, como Reading, Glastonbury e Lollapalooza.

O Phoenix não é tido como um grande case de sucesso no mundo dos festivais. Era um evento de quatro dias, mas com duração restrita, em vez da política de quase 24 horas de música e uma-atração-para-onde-quer-que-você-olhasse, que já começava a virar padrão. No primeiro ano, 1993, as principais atrações foram Sonic Youth, Faith No More e Black Crowes. Havia um “palco zine”, com bandas como Buzzcocks, The Men They Couldn’t Hang e Pele (sim, uma banda britânica cujo nome foi inspirado no rei do futebol). Além de um palco “jazzterrania” onde até Gil Scott-Heron fez show. Em 1994 havia um palco com patrocínio da revista Melody Maker e até uma área de stand-up comedy.

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Um show, digamos, inusitado apresentado no Phoenix rolou em 1997 de maneira quase clandestina. David Bowie, anunciado como uma das atrações principais daquele ano, estava em plena turnê do disco eletrônico Earthling e decidiu fazer um apresentação “pirata” de seu projeto de drum’n bass Tao Jones Index na área BBC Radio1 Dance. Ao lado do cantor (voz, guitarra e sax), sua banda na época: Reeves Gabrels (guitarra solo), Gail Ann Dorsey (baixo, vocal, teclado), Zachary Alford (bateria, percussão) e Mike Garson (teclados).

O Tao Jones é um projeto geralmente pouco citado da história de Bowie, que chegou a render um disco – na verdade um single, com releituras gravadas ao vivo em Amsterdâ de duas faixas do catálogo do cantor, Pallas Athena (1993) e V-2 Schneider (1977). A tal apresentação no Phoenix incluiu músicas como Fame e O superman (Laurie Anderson). Foi um set curto, de sete canções, com Bowie e banda na escuridão, envoltos em gelo seco (diz o setlist.com) e pouco destaque para o cantor.

Existem alguns vídeos da noitada. Olha só!

Em 2020, Reeves Gabrels respondeu algumas perguntas no Twitter sobre o Tao Jones Index e matou as curiosidades dos fãs. O nome do projeto é uma brincadeira com o índice Dow Jones (um dos mais conhecidos indicadores do mercado norte-americano) e com o taoísmo – o Jones, claro, vem como referência ao sobrenome verdadeiro de Bowie. Os músicos usavam seus instrumentos sem amplificadores, direto na mesa de mixagem. O Tao Jones durou “por volta de uma meia dúzia” de shows. A brincadeira acabou porque perdeu a graça. “Os fãs preferiam pedir sucessos em vez de dançar”, reclamou Gabrels.

Mais: a versão de O Superman surgiu apenas porque Bowie queria usar os talentos da baixista Gail como cantora. Gabrels conta que o objetivo desde o começo era apenas promover um baile com o Tao Jones, e que nunca houve intenção de lançar um álbum do projeto – até porque o cantor, que vinha se metamorfoseando em artista de música eletrônica em discos como Earthling (1997), voltaria a fazer art rock e art pop em Hours (1999).

O jornalista John Mulvey, num texto sobre o TJI publicado na Uncut, recorda que o principal dessas iniciativas do cantor é que ele não tinha medo algum do fracasso. “O perigo de parecer idiota não era algo que parecesse incomodar Bowie indevidamente: para um homem habitualmente associado a um conceito elevado de cool, ele raramente tinha medo de colocar esse coolness em perigo. Na verdade, na única vez em que ele pareceu tentar se isolar de um possível constrangimento, acabou na Tin Machine”, escreveu.

E essas são as gravações do Tao Jones Index.

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