Cultura Pop
Starman: quando saiu um disco de David Bowie na União Soviética (e em 1989)
Apesar de nem sequer ter tido discos lançados na União Soviética durante os anos 1970, David Bowie esteve por lá em 1973, mas não foi para dar nenhum show. Bowie decidiu finalizar uma turnê pelo Japão embarcando num navio de cruzeiro soviético com destino ao porto continental de Nakhodka, a cerca de 85 quilômetros de Vladivostok, no extremo leste da Rússia, ao lado do amigo vocalista e percussionista Geoff MacCormack.
Era uma saída que não costumava ser usada por rockstars que estavam fazendo muitas turnês – e na prática, isso deixaria Bowie mais tempo na estrada do que ele poderia ficar. Só que o cantor morria de medo de pegar avião e vivia tentando de todas as maneiras escapar de voar. Bowie, usando jaqueta de couro amarela e boné xadrez, chamou bastante atenção no navio. A ponto de ele e Geoff serem abordados por dois sujeitos que começaram a fazer várias perguntas. Era, na verdade, um interrogatório casual da KGB, a agência secreta soviética.
A aventura de Bowie pelo país foi detalhada no livro From Station To Station, Travels With Bowie 1973-1976, do próprio MacCormick, que também atuava como fotógrafo ocasional. Bowie, que fez uma viagem de trem até Moscou e quase ficou perdido por lá, quando resolveu ir comprar comida na plataforma com MacCormick, na época chegou a escrever textos sobre sua ida à URSS para uma revista adolescente chamada Mirabelle, e lembrou de ter achado o país absolutamente gigante e “intocado pelo homem e suas invenções” (tem um pouco disso aqui).
Bom, o tempo passou, a URSS começou a se abrir para o rock e para a música pop ocidental e em julho de 1987, ninguém menos que Paul McCartney decidiu lançar um LP exclusivo para o mercado soviético. Choba B CCCP (Back in the USSR, em russo) saiu pelo selo estatal Melodia, tem treze clássicos do rock interpretados pelo cantor, capa feita pela sua mulher Linda McCartney e ajudou a dar um certo empurrão Mikhail Gorbachev em sua Glasnost, a abertura política que culminaria no fim da URSS em 1991 (tem um texto do site Socialista Morena que explica tudo isso com detalhes).
Agora, não foi só Paul que teve um disco lançado por lá, não. Olha aí Starman, compilação de David Bowie lançada exclusivamente no mercado soviético em 1989.
Starman era uma coletânea bem curiosa. Tinha poucas faixas e misturava canções MUITO conhecidas a insucessos da carreira de Bowie. O lado A por exemplo, tinha Space oddity misturada a God knows I’m good (do segundo disco do cantor) e mais duas do disco The man who sold the world, de 1970: All the madmen e Black country rock, sendo que as duas nunca foram hits. No lado B, tem cinco faixas justamente do cinquentão Ziggy Stardust, entre elas as três primeiras, interligadas (Five years, Soul love e Moonage daydream). Hoje esse disco vale cerca de 20 libras em sites de LPs usados. Mais novidades de Bowie relativas áquela região só viriam mesmo em 1996, quando ele se apresentou na Rússia.