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Quando The Shamen misturou beats eletrônicos e política

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A banda The Shamen é oriunda de Aberdeen. Mas não a cidade na qual nasceu Kurt Cobain, nos EUA – trata-se da terceira cidade mais populosa da Escócia. O grupo formou-se em 1985 como um expoente do rock-dance-eletrônico, mas no começo eles flertaram com a psicodelia dos anos 60. Leia-se: Syd Barrett, Love e 13th Floor Elevators.

Mas tudo iria mudar quando a banda (através de Colin Angus e Will Sinnott) mergulhou fundo nos “beats” e “samplers”. Um dos fundadores, Derek McKenzie, discordou do caminho escolhido e abandonou a banda. Porém, depois viria Will Sinnott, que tinha uma bagagem extensa no cenário eletrônico, que ia de M/A/R/R/S e S-Express ao Can.

Por sinal, essa transição nos discos influenciou muita gente, tais como EMF, Jesus Jones etc. O Shamen ainda contaria com Richard West (Mr. C, DJ e Produtor inglês) e Victoria Wilson-James nos vocais. E dos oito álbuns de carreira (metade deles dedicados ao eletrônico pesado e raves) o mais polêmico foi, sem dúvida, o segundo deles: In Gorbachev we trust (1989).

A escolha do nome do líder da ex-União Soviética vinha por causa do impacto da Guerra Fria (conflito de décadas entre USA e URSS). Não apenas por causa da própria frase. Não custa lembrar que o termo “In God We Trust” é “o” lema americano, além de estar na constituição e na moeda (nota) norte-americana.

Ao lado de En-tact (1990), uma espécie de bíblia sagrada das raves, esse trabalho do Shamen é uma porrada musical e política. A começar por músicas como Jesus loves Amerika ou War prayer (baseada na obra do escritor Mark Twain, e durante a qual o ouvinte escuta a frase “Deus destruirá a Rússia”).

E além de todo rebuliço, ainda há apologias explícitas aos psicotrópicos da época. Faixas como Adam strange (Adam é um anagrama para MDMA) e Sinergy (single clássico que não só fala sobre a mesma droga, bem como tem a frase “estamos juntos com o ecstasy”). Além disso, tem Mayhew speaks out, que fala sobre a ocasião em que o deputado britânico Christopher Mayhew fez uma viagem de mescalina para um documentário da BBC.

Em resumo: The Shamen fez um estrago no ano de 1989 e deixou bem claro seu recado. O mundo mudou! Verdadeiro pé na porta no começo da década de 1990.

Aliás, confira aí um vídeo em que Will fala, em 1989, sobre o sucesso do disco, e sobre a escolha de Gorbachev para o título. Em primeiro lugar, o Shamen achava que o líder soviético era uma das pessoas que ditavam o futuro. Daí surgiu o nome dele na história. “Pensamos em um homem para substituir Deus no ‘In God we trust’ e pusemos Gorbachev”, contou.

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