Reportagens
Satoru: camadas de som, direto de São Paulo
A banda paulistana Satoru faz questão de enfatizar no release que “faz um rock com camadas de silêncio, psicodelia e referências a sons oitentistas”. Lançando o primeiro álbum, epônimo, Rico (vocais, guitarra, teclado e piano, Gus (baixo) e Odudu (bateria e drumpad) dizem que as influências do trio não seguem um padrão.
“As pessoas ouvem a gente e mencionam Pink Floyd, Wilco, que são bandas que eu particularmente amo, mas que não tiveram nenhuma influência direta no disco”, diz Rico (mas de fato, o saxofone de Por que será?, uma das faixas, remete diretamente a Us and them, do disco Dark side of the moon). “Eu diria que eu estava ouvindo muito Cate Le Bon, Japanese Breakfast, Clube da Esquina, nada muito conectado, mas nada muito separado também, acho. E algumas coisas que são deliberadamente importantes, krautrock, shoegaze e Marisa Monte”. “É engraçado como o Rico tem influências bem diferentes da minha, mas a gente se conecta num universo próprio (risos). Eu tenho algumas bandas que estão sempre na minha cola, Frank Zappa e Beatles. Eu estava bastante conectado com vários trabalhos do Jorge Mautner, com King Crimson, Shintaro”, completa Gus. Odudu cita Big Thief, Weyes Blood.
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Rico e Gus já vinham tocando há bastante tempo e tinham gravado coisas juntos, mas num trabalho circunscrito ao universo 100% independente. “Sabe aquela coisa de cuidar do encarte, gravar o CD e vender na marra? Era assim e tinha até um certo charme no nosso imaginário”, lembra Rico. Leonardo Rivera, criador do selo Astronauta Discos (distribuído pela Universal), propôs à banda gravar o primeiro disco. Isso aconteceu depois de uma reformulação no som e da entrada de Odudu. Mas as melhores condições para gravar demoraram para aparecer. “Porque era importante que a gente estivesse muito conectado e próximos, e a pandemia não permitia isso”, diz Gus.
Como o selo é do Rio, a banda tomou todos os cuidados possíveis e saiu de São Paulo para gravar num estúdio no bairro de Santa Teresa. “O Leo tinha algumas ideias sobre a concepção do trabalho e sobre os parceiros e, bem, a gente adora a cidade. Tem uma coisa meio idílica e visceral na cidade que foi bem importante e inspirador. Eu diria que a gente atrasou a gravação do disco em uns seis meses e o lançamento em quase um ano por causa da pandemia. Tomamos todos os cuidados possíveis, máscara, álcool, distanciamento…”, completa Rico.
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Complementando o som do trio, as vocalistas Jhasmynna e Ágatha participaram de algumas faixas. “São duas artistas maravilhosas do Rio que têm um trabalho autoral ótimo, cada um em seu estilo mas que trouxeram uma cor bem especial pro disco. Não só elas, mas o Cauê também foi bem importante no sax e o Claudio Rabeca, que eu sou fã do trabalho, deu um tom único em uma das nossas faixas. A nossa ideia para o ao vivo é manter a cozinha, que é este trio aqui, super bem resolvida e adicionar alguns elementos dependendo do contexto. Certamente um guitarrista e um tecladista e em alguns momentos vocais e metais”, conta Rico, esperando pela chance de mostrar o material ao vivo. “Eu sinto que lançar um disco sem show é quase que como não lançar. A gente meio que só ancorou o trabalho nos streamings e no Bandcamp, mas para uma banda nova falta a gente mostrar o trabalho ao vivo”.
Apesar do clima tranquilo de faixas como Transformação e Minha fé serem associados por muita gente à pandemia, o grupo diz que 90% do material já estava pronto antes de março de 2020. “Eu diria que a pandemia indiretamente influenciou o trabalho, tem silêncio, tem alguns ângulos que são bem diferentes de como tínhamos concebidos na composição e que são também diferentes de como olharíamos hoje”, conta Rico. Gus completa: “E tem a coisa também de como a gente foi montando o arranjo, né? A gente preparou o trabalho remotamente em total isolamento. A gente estava em estúdio antes da pandemia, mas tivemos que nos virar quando tudo começou”.