Cultura Pop
Sambas do Além: batuque mediúnico da Bahia
A gravadora baiana JS Discos, fundada em 1962 por um produtor chamado Jorge Santos, entrou para a história por ter sido o primeiro selo de Gilberto Gil. Isso porque o autor de Aquele abraço deixou um EP gravado lá, que anos depois foi até relançado em CD e está no Spotify. O disco de Gil, diz o Discogs, pode atingir até R$ 1.800 em vendas de usados. No entanto, tem um outro lançamento do selo, que pode até estar longe de ser um dos mais raros (tem sido vendido por uns R$ 200), mas é bastante curioso: um EP de sambas psicografados, Sambas do além.
Olha a capa aí.
Tem pouca informação sobre o conteúdo de Sambas do além na internet. O disco não tem nem a data impressa na capa e no selo. Aliás, a própria contracapa do disquinho – que tem as músicas Quem tem ouvidos de ouvir, Como chorei!, O grande enigma e Minha identidade – já é uma fonte de informações sobre o que tem no EP. A médium Mayave Pereira Valença, que pertencia a uma colônia espírita de Salvador chamada Seara do Mestre, recebeu (por inspiração mediúnica) as músicas de sambistas que estavam mortos. Por sinal, na época, ela e os integrantes do centro estavam recebendo mensagens musicadas de espíritos.
Você já deve estar se perguntando: tem algo de Sambas do além no YouTube? Por acaso, tem justamente a música que Mayave diz ter sido o recurso para que o sambista “ido” pudesse dar uma pista de seu nome, Minha identidade. A letra diz “no samba eu sou doutor”. Só pra registro, Noel Rosa, morto em 1937, fez faculdade de medicina.