Cultura Pop

Sambão de Star Wars, com Masayoshi Takanaka

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O guitarrista japonês Masayoshi Takanaka é um sujeito que, digamos, leva o estilo flamboyant a sério. Seja na música que toca – um jazz-fusion alegrinho que une bossa nova, samba, rock progressivo e soul – seja em sua postura de palco. Conhecido e elogiado (e tornado clássico) por álbuns como An insatiable high (1977), ele é um sujeito que já apareceu felizão da vida caindo de paraquedas na capa de um disco (a simpática compilação All of me, de 1979).

E que, dentre os vários instrumentos que já usou no palco, guarda em sua casa uma… guitarra-prancha de surf.

Uma de suas guitarras mais conhecidas é uma Yamaha SG que ele costuma chamar de “lagoa azul” – enfim, o instrumento é todo nessa cor. Virou marca registrada do músico a ponto de ele aparecer com ela na foto escolhida para a página dele na Wikipedia.

Até que a carreira solo de Masayoshi iniciasse, o músico marcou uns gols bem interessantes. No começo dos anos 1970, ele era baixista de uma banda japonesa de hard rock chamada Flied Egg, que foi até contratada pela Vertigo. O grupo durou bem pouco tempo e logo depois ele estaria tocando na Sadistic Mika Band, uma banda japonesa de art rock que, em 1975, chegou a aparecer no Old grey whistle test, da BBC, e abriu um show do Roxy Music na Inglaterra.

NO BRASIL

Masayoshi iniciou seus voos solos quando ainda fazia parte da Sadistic Mika Band e logo ganhou fama de “melhor guitarrista do Japão”. Até que em 1978 acrescentou à sua discografia um álbum bem curioso: Brasilian skies, seu quarto disco. O nome é assim mesmo, “brasilian”, e na capa o músico aparece felizão da vida, sentado numa cadeira de praia, aparentemente no alto verão (mas com a praia bem vazia!).

O disco tem algumas curiosidades para os ouvintes, a começar pela faixa de abertura, que se chama Beleza pula (assim mesmo, com “l” em vez de “r”). E o fato de Masayohsi ter aparentemente viajado ao Brasil para gravar parte do disco nos estúdios da PolyGram, na Barra da Tijuca. Jornais como O Globo e Jornal do Brasil não registraram a visita do músico ao Rio – pelo menos não achei nada nos arquivos.

ATÉ O WILSON DAS NEVES

Na contracapa, uma foto mostra Masayoshi cercado por vários músicos brasileiros. A turma que participou do disco inclui o trio de ouro dos ritmistas nacionais (Eliseu, Luna e Marçal), Wilson das Neves (bateria), Sérgio Barroso (baixo) e outros. Mas uma parte boa do álbum foi feita no estúdio Westlake Audio, em Los Angeles, o que explica a presença de integrantes do Toto na ficha técnica. E até de Ryuichi Sakamoto nos teclados. O encontro de feras nacionais dos estúdios, feras do pop americano e de músicos japoneses dá em uma sonoridade toda própria.

Um blog chamado Maior Que O Peloponeso fez uma série de observações bem interessantes sobre Brasilian skies. Lembrou que em 1978, o Brasil vivia um período de triste memória (estávamos na ditadura militar e o AI-5 caía de moribundo, mas estava no finalzinho). E que o disco caminhava numa trilha oposta à da música-brasileira-conhecida-no-exterior: enquanto a bossa nova de Tom Jobim e João Gilberto tinha aspectos melancólicos bem evidentes, a abordagem do músico japonês era só alegria. Se anos depois o Japão viveria uma febre de bossa, o disco de Masayoshi não era tão próximo disso. “Talvez por isso, diferente do que acontece com outros artistas japoneses, onde se vê muito mais a influência da bossa nova, com Takanaka é o samba que tem mais destaque, ou melhor, que define o tom do álbum, vide a faixa de abertura”, escreveu o autor do blog.

Bom, essa longa introdução é só para avisar aos leitores que Masayoshi Takanaka, nesse disco, também se aproveitou do sucesso do primeiro filme da franquia Star Wars para lançar o… Star Wars samba, tocado com percussionistas de escola de samba e… slide guitar.

Tem um clipe também. Da pra ver alguns dos músicos brasileiros lá atrás.

Masayoshi Takanaka continua por aí. Olha ele se apresentando em 2019.

Diga-se de passagem, não foi só Masayoshi que fez isso. Star wars foi uma febre tão grande que os reflexos na música foram inevitáveis. Um compositor chamado Meco fez versões disco-music dos temas do filme e vendeu milhares de discos, até mesmo no Brasil (você já leu sobre isso no POP FANTASMA).

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