Cultura Pop
E o aniversário de Rid Of Me, de PJ Harvey?
PJ Harvey, lançando o segundo disco, Rid of me (lançado em 4 de maio de 1993), estreava na Island como uma estrela do rock alternativo, após o sucesso da estreia Dry (1992). O primeiro disco de Polly Jean Harvey e seu trio tinha sido divulgado pelo DJ John Peel, elogiadíssimo por Kurt Cobain (era o elogio que mais interessava no começo dos anos 1990) e tinha provocado uma pequena disputa entre gravadoras.
Nem mesmo a distribuição modesta do selo Too Pure, no qual PJ estreara com Dry, tinha prejudicado a chegada no mercado de uma cantora e compositora que revolucionava o rock alternativo, cobrindo-o de referências de protopunk, country e blues (o que levou um de seus primeiros fãs, Elvis Costello, a comparar sua aparição no The Tonight Show com as idas do bluesman Howlin’ Wolf ao musical televisivo sessentista Shindig!). Para Rid of me, a ousadia tinha que continuar: PJ, na guitarra e nos vocais, e acompanhada do baixista Steve Vaughan e do baterista Rob Ellis, optou por convidar Steve Albini para produzir o álbum.
Esteta do barulho, e responsável por sessões nas quais costuma “fotografar musicalmente” os estúdios (com microfones espalhados por todo canto), Albini havia impressionado PJ por causa do trato que dera a Surfer Rosa, segundo disco dos Pixies (1988). Sua produção meteu sujeira e tensão no som de Harvey, e foi criticada por muita gente por “enterrar” os vocais dela na mixagem, e até por supostamente transformar a cantora numa filial dos Pixies. Bobagem: Rid of me é um grande disco, recomendadíssimo para quem gosta de sensação de perigo ao ouvir música. E cheio de personalidade, no tom selvagem de músicas como Dry, Snake, Yuri-G e Ecstasy.
Em meio à produção do álbum, as coisas pareciam confusas para PJ e seus músicos (que na época, eram um grupo e atendiam pelo nome de PJ Harvey Trio). Os integrantes comunicavam-se mal, o sucesso repentino tinha feito mal à saúde da cantora, estresses e brigas surgiam pelos cantos. Com fama de insociável, Albini não parecia a melhor opção de produtor numa hora dessas, mas deu certo: o grupo amou o resultado, e a crítica e as rádios universitárias amaram o disco, que entrou direto nas paradas do Reino Unido.
PJ negava que as letras eram autobiográficas, mas o álbum tinha lá seus lados de relato de experiências. Rid of me, a música, falava sobre o fim de um relacionamento. Rub til it bleeds provavelmente falava sobre o mesmo assunto. Havia feminismo e provocação com o universo macho-alfa em Me-Jane e Man-size sextet, e em boa parte do disco – mas PJ relutava em encarar seu material como feminista, e basicamente dizia que preferia escrever sobre coisas que “outras pessoas podem achar repulsivas ou constrangedoras”.
E se você nunca ouviu Rid of me, tá aí sua oportunidade.