Cultura Pop
Renascido do inferno: a volta de Roky Erickson há 45 anos
Em julho de 1977, o Texas Monthly avisava que um grande nome do rock local estava de volta. Ninguém menos que Roky Erickson, três anos após sair de um hospital psiquiátrico onde passou por terapia eletroconvulsiva – e onde tinha ido parar após ter sido preso com um mísero baseado, e ameaçado com uma prisão por dez (!) anos. Roky montou uma banda chamada Bleib Aliens, ou Roky’s Aliens, formada por músicos que viviam na Bay Area. E retornava com dois singles – ambos hoje estão na lista dos discos pouco recordados que chegam aos 45 anos.
O mais conhecido foi um single cujo lado B acabou se destacando mais que o A, e foi regravado por Roky depois, numa volta sutil que ele fez ao mainstream, gravando pela CBS britânica. Mine, mind, mind, o tal single, trazia Two headed dog no outro lado. A canção foi inspirada pela história do médico e cientista russo Vladimir Demikhov, que se tornou conhecido pelos transplantes que fez em animais (incluindo o tal cão de duas cabeças do título da canção).
O single saiu pelo selo francês Sponge, que foi criado pelo jornalista francês Philippe Garnier – o mesmo que fazia matérias sobre a cena punk na revista Folk & rock. A gravadora não durou muito, mas teve tempo de colocar nas lojas o compactinho de Roky, que traz Two headed dog em clima pré-punk. A versão que saiu anos depois pela CBS, quando Roky foi contratado pela gravadora nos anos 1980, é mais “limpa” e não menos pesada. Olha (ou melhor, ouve) as duas aí.
Antes de se tornar uma gravadora que relança clássicos da música, a Rhino Records (opa, isso dá uma matéria) era um selo que lançava artistas pequenos. Um deles foi Roky, que teve lançado naquela mesma época um outro single com Bermuda no lado A e The interpreter no lado B. A primeira era uma brincadeira cruel com histórias de desaparecimentos de aviões no Triângulo das Bermudas, e soava como uma paródia de San Francisco, aquele sucesso de Scott McKenzie (“se você for lá, faça planos para ficar/aparentemente você vai curtir/é assim que as coisas funcionam em Bermuda”, diz a letra).
Já sobre The interpreter, o Texas Monthly afirmava que era uma outra brincadeira com coisas da União Soviética, assim acontecia em Two headed dog (tinha o verso: “onde está o intérprete?/ele vai queimar como o diabo?/irá sair de Moscou?”).