Cultura Pop

Relembrando: Morrissey, “Beethoven was deaf” (1993)

Published

on

Dizem por aí que o infame título do primeiro álbum ao vivo de Morrissey, Beethoven was deaf, foi inspirado por um homônimo do cantor – Paul Morrissey, diretor de cinema, cria da Factory (estúdio de Andy Warhol), e que em 1985 dirigiu Beethoven’s nephew. Era uma comédia meio queer, que mostrava o compositor clássico como um sujeito casca-grossa, portador de uma estranha obsessão pelo sobrinho – a ponto de resolver travar uma luta pela custódia dele com sua irmã (interpretada por ninguém menos que Jane Birkin)

  • Tem mais Smiths no Pop Fantasma aqui.
  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Seja como for, até hoje ficou pouco claro porque é que Morrissey, um sujeito quase tão complicado quanto o Beethoven do filme de seu quase-xará, decidiu lançar um disco ao vivo – aquele tipo de coisa comemorativa, quase mandatória do mercado fonográfico. Provavelmente foi influenciado pelo sucesso de seu melhor disco solo, Your arsenal (1992), lançado numa época em que o ex-Smiths já falava muita bobagem em entrevistas e destilava veneno nas letras, mas passava batido como apenas um gênio torturado do rock, e como metade de uma das duplas mais saudosas de compositores (ele e Johnny Marr) da história do estilo.

O repertório dramático e quase sincericida de Your arsenal aparece quase todo em Beethoven – faltou apenas o ska-glam Tomorrow, uma das melhores faixas. Apesar da capa explicar que o disco foi totalmente gravado no Le Zenith, em Paris, em 22 de dezembro de 1992 (“na frente de 6.500 pessoas”), não foi bem assim. As faixas You’re the one for Me, fatty, Certain people I know, The National Front Disco, We’ll let you know, He knows I’d love to see him, You’re gonna need someone on your side e Glamorous glue foram na verdade, gravadas dois dias antes em Londres, no Astoria Theatre.

Em vários casos, o repertório ganhou mais peso e urgência do que nas versões originais – fica claro em Certain people I know, que perdeu o lado anos 1950 e ganhou uma aparência quase pós-punk, ou na parede de guitarra no final de The National Front disco. As almas torturadas que se emocionam com canções tristes como Seasick, yet still docked e o hino da auto-rejeição November spawned a monster parecem bem alegrinhas na plateia. O humor ácido e meio estranho de You’re the one for me, fatty, e os hits Suedehead e We hate it when our friends become successful também crescem no disco ao vivo.

Ainda sobre as razões por trás do disco ao vivo, o cantor britânico provavelmente queria mesmo era apressar o fim de seu contrato com a EMI, que terminaria após o lançamento de Vauxhall and I (1993), seu disco seguinte – o preferido do próprio Morrissey, embora bem menos inspirado que o anterior. O cantor mudou-se para Los Angeles, assinou com a RCA, lançou o ousado disco Southpaw grammar (1995), virou atração de abertura da turnê de David Bowie (acabou desertando da tour e se desentendeu com Bowie) e passou a alternar álbuns interessantes com atitudes e entrevistas cada vez mais estranhas. Recentemente disse se sentir “apagado da história dos Smiths”, seu ex-grupo. E está, como você deve saber, prestes a vir ao Brasil após meter um atestado médico e remarcar os shows.

Trending

Sair da versão mobile