Cultura Pop

Relembrando: MGMT, “Congratulations” (2010)

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O objetivo era que o segundo disco de Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser, dupla americana que forma o MGMT, não tivesse singles, e fosse bem mais viajante que a estreia com Oracular spectacular (2007). No meio do caminho, resolveram pelo menos oferecer um docinho para os fãs (a boa Flash delirium, lançada no site dos dois para download inicialmente) e… acabaram tendo a surpresa desagradável de ver todo o seu disco vazar na internet. Por causa disso, decidiram oferecê-lo inteiramente (e oficialmente) grátis aos fãs antes do lançamento.

O conteúdo de Congratulations, dependendo da disposição de quem o ouve, pode soar igualmente como uma surpresa das mais estranhas. Foi mais ou menos o que aconteceu em 13 de abril de 2010, quando o disco foi lançado oficialmente de vez. Flash… o tal primeiro single, ainda se assemelha um pouco à faceta synth pop que se esperaria do MGMT, mas a banda ousou ao ficar bem mais offline do que no primeiro álbum. E mais ligada à psicodelia e à fritação de cérebros sessentista do que ao ambiente pop e decadente, embora visto com doses de ironia, do hit Time to pretend, da estreia Oracular spetacular. Aconteceu que, até hoje, o segundo álbum do MGMT tem fama de disco “injustiçado” da dupla, de disco feito para jogar as expectativas do público indie no lixo.

Van Wyngarden não mentiu quando afirmou, num questions & answers na Spin, que o disco “seria como um álbum de soul”. Pode até ter exagerado, mas sobra alma no disco. E experimentalismo também. O primeiro single, doidão na medida incerta, destrincha uma fileira de não-refrões, colados um no outro. Se a capa relata uma espécie de surf do LSD, a primeira faixa, a surfística e doiralhaça It’s working, põe o ouvinte no clima, com uma letra que fala em ruídos e luzes piscando – e que o cabeça da dupla confessa ter sido inspirada por (experiências boas e ruins com) ecstasy.

Tais rajadas de luz e de som podem ser melhor apreciadas em Someone’s missing, totalmente anti-pop – uma melodia sessentista e quase beatle, cujo arranjo ganha progressões até o fim da música. E mais ainda nos doze minutos de Siberian breaks, canção que, de uma simples melodia folk, parte para um arranjo cheio de surpresas – às vezes lembrando os cantos e recantos de Nights in white satin, do Moody Blues, por mais incrível que pareça.

Já Brian Eno segue o mesmo esquema de homenagem-zoação que David Bowie, em 1971, iniciou ao compor uma canção chamada Andy Warhol (lançada no disco Hunky Dory) louvando e pegando no pé do artista plástico. O fundador do grupo glam Roxy Music (cujos trabalhos, de todo jeito, ecoam no MGMT), ganha uma música com seu nome, que traz versos como: “estava seguindo os sons de uma catedral/imagine minha surpresa quando descobri que eram produzidos por Brian Eno (…)/se o céu fosse sintetizado, talvez você entendesse”. E talvez dê para botar na mesma conta o instrumental Lady Dada’s nightmare, uma das melhores composições de Congratulations. Vale recordar, e muito.

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