Cinema
Relembrando Linda Blair e Rick James
Em 1979, o chororô acabava: Linda botava patins e vivia no filme “Roller boogie” uma menina que, com o namorado, lutava para manter aberto um rinque de patinação. Esse filme (em que a atriz fazia todas as cenas de patinação sem dublê) fez relativo sucesso, passou no Brasil e chegou a virar atração comum da “Sessão da tarde” em algumas ocasiões. Só que – e aí vai um trocadilho horroroso – a carreira de Linda vinha patinando havia tempos. De qualquer jeito a atriz continuou fazendo tudo o que aparecesse, desde a continuação de “O exorcista” (a indesejável “O exorcista II – O herege”, de 1977, da qual o diretor William Friedkin tentou escapar, mas um contrato o obrigou) até a paródia da série de filmes, “A repossuída”, com Leslie Nielsen (1990). Também fez produções em que chutava para longe a imagem de menininha, como “Correntes do inferno” (1983).
E durante dois anos, entre 1982 e 1983, Linda fez, a seu modo, parte da história da música pop graças a um namoro com ninguém menos que Rick James, rei da mistura entre rock e funk, influenciador de toda uma galera que mexia com Miami-bass (origem do funk carioca). Desde 1978 James vinha gravando uma série de discos para o selo Gordy, da Motown, e fazia bastante sucesso. Quando o casal se uniu, começaram a pipocar fotos dos dois nos tabloides, já que Rick fazia sucesso e Linda ainda estava muito presente na mídia. Em 1983, se você não se lembra, Rick lançou até uma música em homanegam a Linda, “Cold blooded”. Olha aí.
Rick era um ser humano repleto de histórias complicadas. Nos anos 60 chegou a morar no Canadá e a tocar numa banda chamada Mynah Birds, de cuja formação fazia parte ninguém menos que Neil Young. O grupo tinha contrato assinado com a Motown e estava gravando um disco, quando a polícia apareceu e levou James – que era desertor da marinha americana e ninguém sabia. No fim dos anos 1960, ficou brother do “cabeleireiro das estrelas”, Jay Sebring, que pretendia investir em sua carreira musical. No dia 8 de agosto de 1969, Sebring convidou James e sua namorada para uma festa na casa de uma amiga, a atriz Sharon Tate, dizendo que o amigo “não poderia perder”.
James lembrou em sua autobiografia “Glow”, escrita com David Ritz, que nem ele nem a namorada acabaram indo a festa alguma. Sorte deles: naquela noite, os pupilos do maníaco Charles Manson passaram na casa que Sharon dividia com o marido, o diretor Roman Polanski, e assassinaram todo mundo que estava lá.
Para piorar, em 1981 um ingrediente explosivo entrava na vida bizarra de James, a cocaína. James chegou a fazer músicas em que falava claramente ou não tanto sobre drogas, como o hit “Superfreak” e “Give it to me baby”. O nível de maluquice aumentou – em “Glow” ele contou que chegou a pedir conselhos a um ex-viciado famoso, Ray Charles, sobre como deixar as drogas (e ouviu dele algo como: “Não sei o que dizer. Tive todos os meus grandes hits quando estava doidão”). Foi nesse clima que ele estava quando passou a namorar com Linda. O namoro começou bem, mas Linda acabou saindo fora, assustada com os hábitos cocainômanos do namorado.
O assunto ocupa alguns minutos do documentário “I’m Rick James”, lançado há alguns anos. Linda, num programa de rádio chamado Sway In The Morning, chegou a lembrar o começo do namoro. Em 1982 não havia Instagram, nem Tinder nem Facebook, e quando um famoso queria conhecer outro, só dando a sorte de estar no mesmo lugar que ele, ou mandando recados em entrevistas e torcer para o destinatário ficar sabendo. Linda era fã de James, e deu uma entrevista falando que o cantor era o “homem mais sexy do mundo”. Um dia o astro conseguiu seu telefone e ligou. E tudo começou. “Ele era uma pessoa incrível. Muita gente não tinha noção do quanto ele era engraçado, e montes de comediantes estavam em volta dele”, contou Linda.