Cultura Pop
Relembrando: Honeyblood, “Babes never die” (2016)
A banda escocesa Honeyblood começou em 2012 nas mãos das musicistas Stina Tweeddale e Shona McVicar, teve uma mudança com a entrada de Cat Myers no fim de 2014 e hoje é um grupo de uma mulher só, comandado pelo vocal e pela guitarra de Stina. Na época do segundo e melhor álbum, Babes never die (4 de novembro de 2016, FatCat Records), Cat já tomava conta da bateria e de alguns vocais.
O Honeyblood de Babes é basicamente uma banda punk, com características que lembram L7 e Sleater-Kinney, mas com uma cara própria que inclui uma e outra referência de dreampop (nos vocais meio enevoados de algumas faixas), vocais e melodias herdados dos girl groups sessentistas e das bandas new wave – e um tom entre o desespero e a brincadeira perigosa. Como na ágil Sea hearts (“posso ser o que eu quiser/mas você não pode ser livre, não depois de ser pego”, em clima igual ao da montanha-russa citada na letra), na angustiada e pesada Babes never die (“quando eu for, serei eu quem decidirá/porque garotas nunca morrem”) e nas tristonhas Walking at midnight e Justine, the misery queen. Tem doçura ali, mas ela surge debaixo de um glacê de pressões, tensões, perigos, felicidades diárias, revoltas igualmente constantes e perguntas sem resposta.
Um lado lo-fi surge nas vinhetas de abertura e encerramento (Outro, no final, tem um estranho clima de bossa nova) e no indie rock de Love is a disease, aberta com sons eletrônicos cuidadosamente desleixados e retrô, mas com explosão de guitarras. Cruel kids, punk melódico com clima herdado do lado girl group do Velvet Underground e ritmo batido num pandeiro, fala sobre contradições pessoais, crueldades que podem ser evitadas, e sobre pressões internas das quais não se pode fugir. O drama particular de Hey, Stellar fala sobre rompimentos que têm que acontecer, e sobre relacionamentos que deixam mais bagunça na cabeça do que respostas no caminho. Histórias que são contadas faixa após faixa. E outra pra ouvir no último volume é a meio punk, meio B-52s Ready for the magic, guitarras pesadas e palminhas em meio aos vocais, fúria e delicadeza.
O Honeyblood anda devendo um álbum novo – In plain sight, o terceiro e mais recente, saiu em 2019, e de lá para cá, foram apenas singles, todos antes da pandemia. Já Stina Tweeddale está em carreira solo paralela com o nome de Stina Marie Claire. Seu projeto de pandemia foi o EP A souvenir of a terrible year, uma espécie de versão bedroom pop do Honeyblood, com músicas de voz, guitarra e sintetizador (e programação de bateria) gravadas num aparelho de 4 pistas. Ouça tudo hoje, dela e de sua banda.