Cultura Pop

Relembrando: Helmet, “Betty” (1994)

Published

on

Num papo com o site Indy Week, Page Hamilton, líder da banda novaiorquina Helmet (e hoje único integrante que está no grupo desde o começo, em 1989) lembrou os tempos de Betty, terceiro álbum (21 de junho de 1994). A Interscope, gravadora do grupo, estava mais do que satisfeita com a visibilidade de Unsung, hit do álbum anterior, Meantime (1992). Quando foi ouvir Betty, sentiu falta de algo parecido com Unsung e cobrou o músico. “Já escrevi essa música”, respondeu Page, dando um banho de água gelada nas expectativas da gravadora.

Betty saiu quando a onda dos “novos Nirvanas” já havia abaixado – por acaso poucos meses após a morte de Kurt Cobain. Muitas bandas ficariam nos grandes selos cumprindo contratos, outras seriam devolvidas ao meio independente, o cenário todo seria modificado em pouco tempo. O Helmet não voltava disposto a facilitar as coisas: o novo disco era bem novaiorquino, Aliás, mais do que honrar o universo hardcore do qual a banda vinha (o novo guitarrista, Rob Echeverria, por exemplo, havia tocado em bandas como Straight Ahead e Rest In Pieces), Betty batia com certa força no lado experimental da música local.

O som do terceiro álbum do Helmet não era tão compacto e simplificado como o de Meantime: mais ruídos, mixagem/gravação com mais peso, duração pouca coisa maior (41 minutos contra os 36 do álbum anterior), uma mescla de metal/funk com jazz logo na abertura, com Wilma’s rainbow, seguida da gritaria de I know, do quase samba-noise de Biscuits for smut, e de uma música ruidosa e classuda, Milquetoast, que acabou se tornando um hit torto do disco. Com direito a clipe na MTV.

Milquetoast foi a única música do disco produzida por ninguém menos que Butch Vig, produtor de Nevermind, do Nirvana – o restante do disco foi feito sob os cuidados da própria banda e de um produtor escolado tanto em rock quanto em hip hop, T-Ray. E a faixa entrou na trilha de nada menos que O corvo, filme dirigido por Alex Proyas, e que acabou ficando ilustre por causa da morte do ator Brandon Lee no meio das filmagens. Mesmo não podendo trabalhar em todo o álbum, Butch deixou sua marca sugerindo que Page não tocasse guitarra nos primeiros versos, e pôs um efeito de rádio AM (“um efeito meio Pink Floyd” diz Hamilton) no vocal do cantor logo no começo.

A capa de Betty, com uma imagem que lembrava mais a de um antigo álbum de country, sugeria uma brincadeira com contrastes – ou que, vá lá, alguém poderia comprar o disco por causa do lay-out. Mesmo com a disposição em mostrar outra face, o disco vai ficando mais maluco depois do fim da primeira metade. O próprio Hamilton reconhece que após Clean, o álbum ganha uma cara bem menos comercial, com a maníaca Vaccination (destacando os berros de Page no final), uma versão do standard de jazz Beautiful love superposta por ruídos, o noise fusion The silver havaiann e blues sombrio Sam Hell. A normalidade é garantida pelas barulhentas e dramáticas Speechless e Overrated.

Page Hamilton (voz, guitarra), Rob Echeverria (guitarra), Peter Mengede (baixo) e John Stanier (bateria) não conseguiram vender muito com Betty, mas ajudaram a cimentar o caminho que ia do “metal alternativo” ao nu-metal. O Helmet gravaria mais um disco pela Interscope, Aftertaste (1997), se separaria, voltaria como um quase-projeto-solo de Hamilton em outro disco pela gravadora, Size matters (2003) e retornaria à independência. Hoje, anunciam álbum novo.

Trending

Sair da versão mobile