Cultura Pop
Relembando: Art d’Ecco, “In standard definition” (2021)
O look do músico Art d’Ecco na capa de seu terceiro disco, In standard definition, em que ele lembra um misto de Iggy Pop + Boy George + Japan, é coisa do passado. No disco subsequente, After the head rush (2022), ele surge oxigenado, parecendo uma mescla de Gary Numan e Robertinho de Recife fase new wave. Nas fotos mais recentes, ganhou um ar rigorosamente dândi, que mistura Bryan Ferry e Paul Weller na época do Style Council.
O que vem por aí, só vendo, ainda mais em se tratando de um artista que tem o mistério como componente criativo. Sabe-se que Art d’Ecco é um cantor e compositor canadense, que não revela seu nome verdadeiro de jeito nenhum, e que de modo geral é bastante comparado justamente a Bowie e Sparks – embora tenha lá suas influências (claríssimas em seus discos) de The Cars, T. Rex, Roxy Music, Japan e até do indie rock mais recente. Algumas canções de In standard lembram um Portugal. The Man com uma noção clássica de coolness e maior apuro com melodias. De qualquer jeito, sua preferência, destacada em entrevistas, é por artistas incomuns, que usam a estranheza como forma de arte e comunicação.
Art d’Ecco teve uma pré-história na carreira, quando tocou em bandas de rock no Canadá – e bolou sua persona quando morou nas Ilhas do Golfo, cuidando de uma avó com alzheimer. Chegou a gravar um primeiro disco, o totalmente independente Day fevers (2018), só com um piano e um iPhone. In standard definition, lançado pelo selo Paper Bag, surge como um Ziggy Stardust do mundo invertido, já que é “um disco sobre entretenimento”, feito por um artista ainda em ascensão.
O tom musical lembra T. Rex em Desires, Sparks e Ultravox em TV god e In standard definition, e chega mais próximo do indie rock mais recente em faixas como I am the dance floor, Good looks (ambas com linhas de baixo destacadas e inspiradas também no pós-punk setentista), Head rush e Bird of prey. O disco foi gravado numa aparelhagem antiga e parece ter sido produzido por Brian Eno ou Tony Visconti, com músicas girando em torno de universos como TV, entretenimento e música como se fossem sonhos ou experiências psicodélicas.
“Sou obcecado por fitas, filmes e sons do passado, então a gravação só poderia ser analógica – em definição padrão – da mesma forma que o entretenimento já foi criado. Eu queria voltar no tempo, existir em uma época diferente e respirar minha criatividade através dela”, contou o músico aqui.
O mais próximo que In standard chega de ter uma Rock’n roll suicide é com a nostálgica I remember, que encerra o disco inspirada em John Lennon, com participação dos músicos da Orquestra Sinfônica de Victoria. “Essa música soa como os créditos finais de um filme antigo para mim. Foi um momento agradável e foi comovente embrulhar todo o conceito para presente”, contou o músico. Ouça In standard definition correndo.