Lançamentos

Radar: Cidade Partida, Dimas, Homeninvisível, William Torres, Resp, Nicolas Geraldi, Raul Seixas

Published

on

O Radar nacional de hoje começa com denúncia em carne viva – é o som da banda carioca Cidade Partida, com vários universos antagônicos do Rio em seu som. Mas seguimos com uma turma que coloca as emoções e as sombras pessoais como assunto principal. Todos os nomes do Radar de hoje falam sobre como lidamos com os monstros do dia a dia, cada um de sua maneira – encerramos inclusive com um nome histórico do rock brasileiro que estaria chegando aos 80 anos em 2025, e cuja carreira foi construída justamente em cima da habilidade de dar nome a muita coisa que a gente sente e nem percebe. Bora?

Texto: Ricardo Schott – Foto Cidade Partida: Divulgação

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
  • E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.

CIDADE PARTIDA, “DE JANEIRO”. O Cidade Partida é um coletivo numeroso – são oito integrantes – e a sonoridade do grupo é ampla o bastante para comportar vários universos em cada faixa. Vindos de Campo Grande (Zona Oeste do Rio), eles traduzem uma carioquice que atravessa distâncias, mistura culturas, encara desigualdades, dribla o caos do deficitário transporte público e aprende com as esquinas.

De janeiro, single com quase sete minutos lançado em maio, mistura art rock, percussões e elementos da música brasileira para tratar de opressões e contrastes em uma cidade que virou cartão-postal do país (“antagonismos em luta / espaço em disputa / no bloco do eu sozinho”, diz a letra).

DIMAS, “EXCESSO DE FUTURO”. Muitas vezes, a ansiedade nada mais é do que excesso de futuro – sabe aqueles momentos em que você não está ligado no que está acontecendo agora, e tem vontade de mexer no relógio para atrasar ou adiantar um pouquinho o tempo? É exatamente isso que Dimas mostra no synthpop Excesso de futuro, que fala sobre um dia a dia em que tudo parece feito ou no sacrifício ou na força da raiva.

“É uma síntese do meu universo musical e acho que é a primeira canção que mostraria para alguém que quisesse conhecer meu trabalho, pois ela grita não só minha identidade artística como também pessoal”, conta Dimas que, num das cenas do clipe, aparece trabalhando num escritório a céu aberto – como o do vídeo de Sweet dreams (Are made of this), dos Eurythmics.

HOMENINVISÍVEL, “NAVALHAS”. Essa banda de São Paulo já passou por estilos como shoegaze e emocore, e vem encontrando sua razão de existir na música ruidosa e nas letras existenciais. Com um EP pronto para sair neste mês, adiantam o disco com Navalhas, uma canção cheia de sombras, que fala de palavras que cortam e ferem, de um quarto escuro que “representa o isolamento necessário para lidar com feridas da alma” (diz a banda) e da necessidade de se recuperar das tristezas e estresses. A música termina abruptamente e parece que vai ganhar continuidade num próximo single, ou numa próxima faixa do EP – quem sabe?

WILLIAM TORRES, “O PESO”. Vindo de Maceió (AL) e influenciado, entre outros sons, pela experimentação musical do Men I Trust, William é produtor, cantor e compositor e tem um trabalho solo que fala sobre temas como “amor, solitude, pertencimento e amadurecimento”, entre outros temas. O peso, novo single, é marcado pelo som etéreo, pelo compasso de valsa indie e por uma guitarra estilingada cujo riff dá todo o andamento da música.

RESP, “NOVA LUA”. Guitar rock melancólico e angustiado dá o tom da música do Resp, que é um projeto do músico curitibano Lorenzo Molossi. Cantando e tocando guitarra, Lorenzo se juntou à banda 3x – formada por Amanda Padilha (baixo) e Felipe Zago (bateria) – e à cantora Niko para gravar os EPs Meio da semana (2024) e Cotia (2025). E é deste último EP que sai Nova lua, faixa que acaba de ganhar um clipe com participação de todos os músicos envolvidos.

O vídeo da canção é basicamente um curta de cinema indie, contando de maneira criativa e fragmentada uma história de dia a dia estressante de trabalho – em que você vende sua força, cumpre uma rotina massacrante e sente, a cada dia, que estão te pagando (mal) mas estão roubando seu tempo. Parece familiar, não?

NICOLAS GERALDI, “VIM DA SOLIDÃO”. Cantor e compositor carioca, Nicolas retoma uma das faixas de seu disco de estreia, Em outro lugar do céu (2023), e lança o clipe da acústica e bucólica Vim da solidão, com um belíssimo arranjo de cordas. O vídeo, dirigido por Hick Duarte, foi gravado durante uma viagem com amigos a Diamantina (MG), e segue o clima introspectivo e interiorano da música, que é inspirada por sons como o rock psicodélico, o dream pop e a música mineira dos anos 1970.

“Mais do que o clipe de uma faixa, é um retrato sensível das cores que compõem o disco”, diz Nicolas, que transformou Vim da solidão numa experiência de autodescoberta, em que estar só, às vezes, não significa necessariamente estar sozinho – pode ser um excelente momento de respiro.

RAUL SEIXAS, “UM SOM PARA LAIO”. Dá para colocar Raul Seixas, o pai do rock brasileiro, aqui no Radar nacional? Dá sim – e como! Raulzito praticamente inventou o emprego de muita gente que hoje surge aqui mesmo no Pop Fantasma. E 2025 é “ano Raul”: tem exposição, documentário e comemorações pelos 80 anos do Maluco Beleza.

Vale inclusive lembrar que Raul não é só Ouro de tolo e Sociedade alternativa. Entre os lados-B geniais do baiano está Um som para Laio, parceria com Paulo Coelho feita para a trilha da novela O Rebu (1974) hoje resgatada na Globoplay em fragmentos. A faixa saiu no LP da trilha, e também num compacto. Com guitarras abertas, batida crua e vocal gritado, Raul e sua turma pareciam incorporar ao mesmo tempo o espírito do pré-punk e os ecos de Woodstock. E o resultado segue pulsando até hoje.

 

Trending

Sair da versão mobile