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Que trilha linda a desse filme, Holocausto Canibal… não, pera

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Quase todo mundo que acompanha cultura pop já deve ter pelo menos ouvido falar de Holocausto canibal, bizarrice filmada pelo italiano Ruggero Deodato (1980). Ainda que não tenha rolado vontade alguma de ver o filme, lógico. Aliás, a falta de vontade é compreensível, já que se trata de uma das produções cinematográficas mais desagradáveis e nauseantes de todos os tempos.

O começo de Holocausto canibal até que não põe medo em ninguém. Embora a história  seja bizarra por natureza, já que trata de uma equipe de filmagem americana que desaparece na floresta amazônica enquanto filmava um documentário sobre tribos canibais indígenas. Um professor universitário vai até o local com uma equipe para procurar os cineastas e, de roubada em roubada, a turma depara com os restos mortais deles, ao lado das latas de filmes.

De volta a Nova York, a turma de um canal de TV quer porque quer que o professor faça um documentário com as imagens, mas o mestre quer ver o material bruto. Daí pra frente, é mais selvageria do que os corações de muita gente podem aguentar. Isso porque as imagens exibidas mostram ataque geral da tribo em cima dos cineastas. Tem gente tendo membros amputados, uma mulher estuprada e empalada, gente sendo atacada com lanças, animais sendo mortos ou torturados, etc.

O filme está inteiro no YouTube mas NÃO DEVE SER VISTO POR PESSOAS MUITO SENSÍVEIS. Aliás, me desculpa aí, só gente muito maluca sente real prazer em ver esse troço.

Ruggero Deodato filmou essas cenas com tanto esmero e tanta veracidade que – você também deve saber – ele teve que se explicar perante um tribunal, já que muita gente achou que os atores realmente tinham morrido depois do filme. O diretor explicou a cena da mulher empalada, por exemplo, em detalhes no tribunal. E teve que levar até fotos dela interagindo com a equipe após a filmagem.

Por causa disso, Holocausto canibal acabou proibido em vários países. Aliás, não faltou gente reclamando que o clima no set também não foi dos melhores, com Deodato hostilizando a equipe e colocando atores em situações bizarras de risco.

E A TRILHA SONORA?

Hoje, passados quarenta anos do lançamento do filme, a única coisa realmente engraçada envolvendo Holocausto canibal é dar uma ouvida descompromissada na trilha do filme. Sim, teve uma trilha sonora do filme, que esteve disponível por vários anos em LP pirata e hoje tem lançamento oficial pelo selo Light In The Attic.

Quem fez a trilha de Holocausto foi um cara que já tinha um fraco por filme forte. O italiano Riz Ortolani (1926-2014) vinha do jazz italiano. E já havia composto músicas para uma série de filmes do giallo, a mescla de terror, suspense e erotismo do país da bota. E por acaso um dos filmes que ele compôs a trilha era um clássico das videolocadoras há algumas décadas atrás.

MUNDO BIZARRO

Mondo cane (1962) era um documentário dirigido por Paolo Cavara, Franco Prosperi e Gualtiero Jacopetti, que trazia práticas culturais do mundo todo. Algumas bem horrorizantes, como a alimentação de gansos à força numa fábrica de patê. Ou gente colorindo pintinhos, antes da secagem dos animais a 50 graus celsius, para serem colocados em ovos de páscoa.

A trilha de Holocausto foi parar na mão de Ortolani justamente porque Ruggero adorou as músicas de Mondo cane e solicitou a ele um trabalho parecido. Os nomes das músicas são zero convidativos: Punição da adúltera, Massacre da trupe, Mulheres crucificadas, Rito selvagem. Mas o pior é que em boa parte do tempo, a trilha é romântica e até meio piegas. Especialmente quando misturam-se sintetizadores e violinos.

Pega aí.

Na conversa abaixo, um repórter pergunta a Riz sobre o fato da trilha ter um certo lado violento e melancólico (ok, isso rola em algumas músicas). Ele responde que com um filme em que uma mulher é sacrificada, não poderia ser diferente. Tanto que tem até um adágio religioso na trilha sonora. Também faz questão de dizer que o próprio filme o inspirou, “porque era muito bem feito”. E explica que algumas passagens da trilha são mesmo violentas para acompanhar o que rolava na tela grande.

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