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Quando os fãs do Joy Division quase cancelaram Closer

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Assim que escutou Closer, segundo disco do Joy Division (1980), Tony Wilson, o chefe da gravadora Factory resolveu demonstrar ao guitarrista da banda, Bernard Sumner, que sabia estar diante de um grande sucesso. Só que fez isso de maneira bastante equivocada: “Sabe, Bernard? No ano que vem você estará relaxando em uma piscina em Los Angeles com um coquetel na mão”, disse. “Foi a coisa mais ridícula que alguém já me disse”, contou anos depois o músico – cuja banda, na época, estava extinta por causa do suicídio do cantor Ian Curtis.

A morte era, digamos, uma convidada especial em Closer, não apenas no subtexto bizarro (a partida do vocalista), como também nos trechos mais autodestrutivos de algumas letras. Em Isolation, Ian cantava coisas como “mamãe, eu tentei, por favor acredite em mim”, “tenho vergonha da pessoa que sou”. Mas ainda tinha a capa do disco. A imagem da estreia da banda, Unknown pleasures (1979) era tão amigável quanto a de Dark side of the moon, do Pink Floyd – apesar de trazer “a morte de uma estrela” expressa num gráfico. A de Closer era uma tumba sem margem de dúvida.

TÚMULO

A foto que você vê na capa de Closer é o jazigo da família Appiani, no cemitério monumental de Staglieno, em Gênova, na Itália. As esculturas foram feitas por Demetrio Paernio em 1910 (e ainda teve gente que, quando viu a capa, pensou que fossem pessoas de carne e osso). A foto foi clicada em 1978 por Bernard Pierre Wolff e entrou no disco por ideia dos designers Martin Atkins e Peter Saville, com a aprovação de todo mundo da banda, antes da morte de Ian.

Só que Closer atrasou e ainda por cima aconteceu a tragédia. E lá estava a banda, com uma coleção de canções sombrias para vender nas lojas, com uma capa daquelas. Saville, assim que soube da morte de Ian, se preocupou mas nada pôde fazer. “Tony Wilson me deu a notícia e eu disse: ‘Temos um problema. A capa do álbum tem uma tumba'”, disse.

Já os fãs da banda (e alguns críticos) se apressaram a meter o pau no grupo e a acusar todo mundo de se aproveitar da morte de Ian para apelar e ganhar grana. “A fotografia parecia uma profecia sinistra, ou uma piada de mau gosto para ganhar dinheiro. Quem em sã consciência colocaria uma tumba na capa do álbum de uma banda cujo cantor acabou de morrer?”, chegou a afirmar o batera Stephen Morris.

ZOOM

Aquela imagem que foi parar na capa de Closer estava numa revista de arte chamada Zoom, que Saville tinha folheado. Na época, até ele mesmo ficou na dúvida se eram pessoas ou esculturas. Mas gostou da imagem e mostrou para a banda, que adorou e quis que aquilo aparecesse no disco.

Outra foto da revista vazou para a capa do single Love will tear us apart, e não era menos sinistra. Saville disse ter se recordado de que a decisão foi em conjunto, com Ian participando de tudo. Só que… “O preocupante é se perguntar o que estava em sua mente”, afirmou.

Ir à Gênova agora fica um tantinho complicado, mas se você for muito fã do JD, vale dizer que um site de fãs chamado Joy Division Central dá certinho o caminho para você chegar aos locais que inspiraram as capas do LP e do single da banda.

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