Cultura Pop
Quando lançaram as demos de Dare!, do Human League
Tem quem (não é pouca gente, não) escute os primeiros discos do Human League e ache que se trata de outra banda, que não tem nada a ver com a imagem pública deles. Os ares pop já estavam por lá, mas a sonoridade era bem mais vanguardista e dada a um ou outro experimentalismo.
Sem contar que era uma banda que, assim como acontecia com o Joy Division, parecia que jamais colocaria sua foto na capa de um disco. Pelo menos não a ponto dos rostos poderem ser reconhecidos pelos fãs. Para a estreia Reproduction (1979), escolheram mostrar os pés de pessoas pisando sobre fotos de bebês nus (sim, deu merda e muita gente achou que a capa dava gatilhos, antes do termo existir). Para o segundo disco, Travelogue (1980), uma imagem quase desfocada, com o brilho do sol.
Os dois primeiros discos não se revelaram o grande sucesso que pareciam ser. Philip Oakey, Martyn Ware, Ian Marsh e Philip Adrian Wright (todos se revezando em vocais, teclados e efeitos) não conseguiam fazer um hit de verdade, brigavam pelo conceito do grupo e discutiam até sobre se valia a pena usar um nome tão pouco conceitual quanto “Human League” ou não.
No meio da guerra, a banda se separou em duas partes. Dois quartos do grupo (Ware e Marsh) saíram para montar o Heaven 17, que encontrou seu lugar ao sol com um hit político, (We don’t need this) Fascist groove thang, e um ambiente cheio de referências (“Heaven 17” é o nome de uma banda pop de mentirinha citada no romance Laranja mecânica, de Anthony Burgess).
Oakey e Wright ficaram, chamaram novos integrantes (os tecladistas Ian Burden e Jo Callis e as cantoras Joanne Catherall e Susanne Sulley). O grupo virou sexteto e aplacou as inseguranças de Oakley, que achava que a banda precisava de garotas para afastar a fama de “banda da qual só os garotos de casacos longos gostam”. Bob Last, empresário da banda, chegou a afirmar que sempre tinha achado que o Human League poderia render como o ABBA, e ficou feliz.
E aí que Dare!, o terceiro álbum (1981), foi a entrada da banda no universo do “tem que dar certo” musical. O grande hit, você deve saber, foi Don’t you want me, que foi uma das últimas músicas do disco a serem compostas e gravadas – e fez toda a diferença para que o álbum mandasse bem nas paradas. Mas ainda tinha Open your heart, The things that dreams are made of e várias outras.
A capa de Dare! precisava acompanhar o clima de mudança. O vocalista Philip Oakey cismou que o lay out precisava parecer com o de uma capa da Vogue, e pôs o rosto de cada integrante numa parte do pacote (capa, contracapa, capa interna, etc). Fez toda a diferença para o grupo trabalhar com o produtor Martin Rushent, super escolado em novas tecnologias.
O Human League, que havia se concebido como uma banda sem guitarras ou instrumentos convencionais, continuou apenas baseado em sintetizadores e baterias eletrônicas. Fez muito sucesso com a proposta nova, a ponto de chamar a atenção do Sindicato Britânico dos Músicos, meio assustado com a possibilidade daquela banda mostrar ao mundo que a partir de agora bastava meia dúzia de botões e teclados para ser fazer shows e discos.
E aí que após vários discos, algumas turnês de “volta” e mudanças de formação (Credo, o disco mais recente, completará dez anos ano que vem), o Human League decidiu recordar o que rolava nos bastidores de Dare! com o CD duplo The making of Dare!, lançado em 2011 pela Virgin, e infelizmente hoje fora das plataformas digitais. Por lá dá para acompanhar versões demo de Don’t you want me, I am the law e Open your heart, rascunhos deixados de lado como Love and dancing (que viraria Do or die) e muitas outras coisas. Alguns rastros disso estão no YouTube.