Cultura Pop
Qual é a do Terra Trio? E por que você deve ler meu livro sobre eles?
(esse textinho foi escrito para convencer você a comprar Terra Trio – Uma família musical com os pés na Terra, biografia do Terra Trio que escrevi, saiu pela editora Sonora e ganha lançamento nesta quarta, dia 8, na Livraria da Travessa às 19h).
Formado pelos irmãos Fernando Costa (bateria), Ricardo Costa (baixo) e José Maria Rocha (teclados), o Terra Trio acompanhou Maria Bethânia entre os anos 1960 e 1970 – na época do best-seller Álibi, de 1978, eles já não estavam mais com ela. Não eram uma banda de estúdio: o grupo funcionou na vida de Bethânia na época dos shows exaustivamente dirigidos (geralmente por Fauzi Arap) que ela fez durante os anos 1970, como Rosa dos ventos.
Duas gravações do trio com ela você conhece do rádio e da TV: Estácio holly Estácio, de Luiz Melodia (gravada pela cantora em 1972 – ate aquele vocal da abertura é deles) e Coração ateu (de Sueli Costa, que Bethânia e o trio fizeram para a trilha da novela Gabriela, em 1975).
O Terra Trio tocou também com Nara Leão, Marisa Gata Mansa, Paulinho da Viola (Ricardo ainda é baterista dele), Chico Buarque (com Bethânia, no show em dupla de 1975). Clara Nunes e Áurea Martins (com quem continuam tocando, volta e meia). Gravaram um LP em 1969, Terra à vista, jamais reeditado em nenhum formato, pelo menos não no Brasil (o Japão, claro, já relançou faz tempo).
O número de artistas com quem os integrantes tocaram em separado daria quase um livro por si só – Ricardo tocou com Tom Jobim e Fafá de Belém, por exemplo. A experiência do trio na noite carioca também é enorme. Especialmente no caso de Zé Maria, um daqueles músicos que são capazes de tirar TUDO de ouvido. “Existem dois tipos de música: a que eu sei tocar e a que eu ainda não sei”, disse ele num dos nossos encontros.
Ricardo, Fernando e Zé Maria, como quase todo músico acompanhante, foram testemunhas de muitas mudanças que aconteceram no universo dos shows e dos discos nos últimos tempos – lugares que fecharam, manias que começaram e acabaram (como a dos piano-bares), modas musicais que dominaram as rádios e depois voltaram para os seus devidos lugares, gravadoras que fecharam. Imaginou qualquer lugar da vida musical carioca dos últimos 50 anos? Canecão, Circo Voador, Teatro da Praia, Rival, só falar. Eles tocaram lá, ou inauguraram, ou fizeram shows antológicos por lá, seja qual for esse “lá”.
Terra Trio, o livro, demorou um pouco para ser lançado (foi escrito entre 2018 e 2019) e agora chega às livrarias não apenas para contar essa história, como para fazer um pouco de justiça. O nome “Terra Trio” está ausente de praticamente todos os livros sobre MPB lançados nos últimos tempos. É como se um grupo importantíssimo da MPB nunca tivesse existido. Mais: não existem muitas pessoas fazendo livros sobre a história de músicos de estúdio ou de palco – uma turma que batalha muito, ganha menos do que merece, e não recebe créditos nas plataformas digitais. E que se ferrou muito na pandemia.
O Terra Trio não é apenas uma história: é estilo de vida, legado musical, geografia (foram criados em Ipanema e, tocando de casa, eram ouvidos no Bar Veloso, que depois virou Garota de Ipanema), mapeamento do Rio, e também é testemunho a respeito de muita gente legal. Uma conversa que se inicia nas antigas escolas de acordeom e nos trios de jazz, e resvala em grandes nomes que eles conheceram de perto. E que acabaram fazendo com que eles também, os três do Trio, fossem igualmente grandes nomes.
Terra Trio é também meu primeiro livro individual, uma biografia, e tem muito do estilo que você já conhece do Pop Fantasma lá, ainda que eu não costume falar muito de MPB por aqui. Se você curte o site e o podcast, tem uma grande chance de você gostar do livro. Lá tem história, música, causos legais e também tem justiça: é a primeira vez que o Terra Trio dá seu testemunho sobre uma época fervilhante da música popular brasileira, em que gigantes caminhavam, discos eram acontecimentos e shows eram manifestos. Leia em alto volume.