Cinema
Purple Rain: a festa de lançamento do filme de Prince
Lembra da era de Purple rain, filme de Prince? Bom, no Brasil, até 1984, o cantor tinha fãs, mas ainda era um nome – aham – desconhecido a ponto de ser apresentado por revistas como a Manchete e a Fatos e fotos como a “nova ameaça ao trono de Michael Jackson”. Contando alguns anos de carreira solo (e com alguns discos lançados por aqui), ele tinha virado notícia imediata em revistas e jornais brasileiros naquele ano com o lançamento de seu primeiro filme, uma superprodução que arrecadou mais de US$ 80 milhões em todo o mundo, e trazia o astro pop estreando como ator.
Na época em que Purple rain começou a surgir, o empresário do cantor, Bob Cavallo, estava prestes a ter seu contrato com o artista encerrado. A produção foi uma exigência do cantor: ou Prince ganhava um filme, com seu nome no cartaz, ou ele não renovaria o contrato com o escritório de Cavallo e seu parceiro Steve Fargnoli.
Prince, lembrou Bob numa entrevista à Spin, ainda não tinha o perfil de astro da música que vence na disputadíssima indústria do cinema. Era um bem sucedido cantor e compositor pop, com hits e discos estourados. Além das músicas e discos excelentes, chamava a atenção por dar novos ares ao pop negro norte-americano, por tocar todos os instrumentos em suas primeiras gravações e por manter uma banda (The Revolution) multirracial, unindo também homens e mulheres musicistas.
O ex-tour manager de Prince, Alan Leeds, foi bastante sincero na mesma reportagem da Spin (que contou a história oral do disco): “Dois hits não significam que você é um astro da tela. E isso aconteceu antes da MTV ganhar algum significado, em especial com a black music. Mas não sei como descrever a obsessão de Prince. Era algo além da autoconfiança. Aliás, não era nem mesmo algo que podemos descrever como arrogância. Era algo que ele via como sendo seu destino”.
O texto da Spin está aqui. Prince e seus empresários foram correndo atrás de bons contatos, financiadores decentes (Cavallo disse textualmente que Prince queria que o filme fosse feito num grande estúdio, “nada de traficantes ou grandes joalheiros financiando a obra”), roteiristas e atores.
O sucesso de Prince, o fato de ser um astro afro-americano que vencia nas paradas de rock, soul e música pop (e evidentemente a qualidade do material que vinha por aí) justificavam que o lançamento do filme Purple rain fosse uma festança de parar o comércio. E, para relembrar essa fase do pop mundial, alguém jogou no YouTube a cobertura que a MTV fez da avant-première de Purple rain.
Olha aí. Abrindo com um grande astro jovem, Eddie Murphy, que o apresentador faz questão de afirmar que estrearia Um tira da pesada em pouco tempo. E prosseguindo com bate-papo tímido com Wendy & Lisa, integrantes da bandas de Prince – uma delas constrangida a ponto de mal lembrar de usar o microfone para falar.
Lá pelas tantas, Eddie Murphy volta ao lado de Sheila E. e de ninguém menos que Little Richard. O velho roqueiro avisa que é o pai de toda a nova geração pop afro-americana (“Michael Jackson sou eu, Prince também”) e leva um presente para seu amigo de longa data. Nada menos que uma Bíblia com o nome de Prince na capa, e o livro Passos para Jesus. Será que ele curtiu?
Aí embaixo, você curte as cenas de bastidores. Curiosamente, os primeiros músicos a chegarem fazem parte da turma do hard rock, que vendia muitos discos na época e dominava a MTV: Carlos Cavazo e Rudy Sarzo, respectivamente o guitarrista e o baixista do Quiet Riot.