Cultura Pop
Produtor maluco bota medo no U2
Em 27 de novembro de 2020, falamos de Boy, estreia do U2 (1980) em nossa seção de “várias coisas que você já sabia sobre…” (que volta nesta semana com outros discos). O disco foi uma produção de Steve Lillywhite. Mas existiu uma possibilidade enorme de o debute do grupo irlandês ser produzido por Martin Hannett, o excêntrico produtor de discos como Unknown pleasures, do Joy Division (1979). Isso porque Martin produzira o primeiro single do U2 pela Island, 11 o’clock tick tock. Fã do Joy, o U2 ficou animado e chegou a ir à Inglaterra ver a gravação do single Love will tear us apart.
Martin, você talvez saiba, era bem estranho: tinha um comportamento excêntrico que assustava músicos e usava métodos pouco ortodoxos de gravação. Mandou criar uma engenhoca de gravação, o AMS Digital Delay, que fazia todo tipo de som fantasmagórico. Graças a esse aparelho, rola aquele eco sombrio na bateria de Unknown pleasures. Ele também botou Ian Curtis, vocal do JD, para cantar no elevador do estúdio e Stephen Morris, baterista, para tocar as partes do instrumento uma por uma (e mixou tudo depois). E respondia às sugestões da banda com amorosos “vão se foder”.
A gravação do single do U2 rolou dias 5 e 6 de abril de 1980 no estúdio Windmill Lane, em Dublin. Martin pirou tanto no trabalho que deixou o U2 suspeitando que ele usava ácido. Em compensação, fez coisas que todos adoraram: gravou as notas de baixo de Adam Clayton todas em separado (e mixou depois) e insistiu que cada som do disco fosse isolado e gravado separadamente. Mas o single, lançado em maio de 1980, ficou com som de radinho de pilha e não vendeu chongas.
No fim das contas, U2 preferiu não repetir a vibe maníaca do single na gravação do LP. Mas por outro lado Martin teve uma crise nervosa por causa da morte de Ian Curtis e sumiu das gravações. E o U2 ficou sem produtor, mas não por muito tempo, já que Steve toparia produzir o grupo (apesar de implicar bastante com o Windmill Lane, QG da banda).