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POP FANTASMA apresenta Chico Salem, “Sangue”

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“Protestar hoje é bater em cachorro morto, tá até fácil”, conta o cantor e compositor paulista Chico Salem, que do fim de 2020 para cá lançou duas canções com letras de protesto, Só que não e Sangue (esta, com letra de Arnaldo Antunes e participação vocal de Zeca Baleiro). Só que mais recentemente foi a vez de Nesse quarto de hotel, versão de Chelsea Hotel, de Leonard Cohen. Uma canção de amor, mas com versos como “a gente ali a cidade a dormir/nessa luta por carne e por grama/falar em amor é pra compositor/é pra quem resistiu a esse drama”.

Essa mistura de protesto, amor e amargura tem tudo a ver com o disco de Salem que está vindo aí, Gritos de guerra, canções de amor (selo Baila, da cantora e compositora Clara Valverde). “A ideia é polarizar protesto e amor”, conta ele, assustado de ver como canções de protesto, mesmo feitas há anos continuam atuais. E para ele, é importante cutucar as pessoas. “Menos no intuito de fornecer respostas e mais para promover perguntas”, conta ele, afirmando que alguns amigos compositores até se sentiram tentados a escrever suas próprias canções de protesto ao ouvir as dele.

“E quando você tem nomes como Arnaldo Antunes e Zeca Baleiro engrossando esse coro, aí mesmo é que faz as pessoas se questionarem”, conta ele, que tem visto a letra de Sangue – escrita antes da pandemia, mas que parece ter sido feita de encomenda para o  momento atual – fazendo efeito. “Teve gente que até me falou: ‘Pô, tava combinando uma balada com os amigos, ouvi a música e desisti'”, brinca. “Mas tenho que tomar cuidado para não ser panfletário, para não ficar dizendo como as coisas são”, conta.

ARNALDO E ZECA

Com Arnaldo Antunes, a história de Chico vem desde o fim dos anos 1990, quando ele começou a tocar guitarra e violão na banda do ex-titã. “Ele é um gênio. Não é só músico, é um poeta, performer, um cara que não para. Uma mente artística impressionante. Qualquer coisa que você lance para ele, vira arte”, afirma ele, que aprendeu bastante com o papel de sideman, de músico acompanhante do cantor, para hoje poder tocar com seus músicos.

“E o Zeca Baleiro é de uma geração que foi muito importante pra mim, dos grandes cantautores, que tinha desaparecido um pouco. Mas aí vieram ele, Chico Cesar, Lenine…”, recorda Chico, que aliás, já havia composto com Zeca Obsessão, gravada em seu segundo disco (2016). A música teve até clipe.

Mesmo que nem houvesse pandemia, a parceria na canção foi à distância: o amigo Zeca estava em uma turnê em Portugal e achou que nem conseguiria fazer a letra a tempo, como Chico Salem recorda. Conseguiu e ainda pôs voz. “E na pandemia essa proximidade se intensificou, a gente trocou figurinha. Mandei Sangue, ele adorou e falei: ‘Quem mandou elogiar? Agora vou te convidar pra cantar'”, brinca.

TOCOU RAUL

Em 2018, Chico fez o show Raul Vivo, em homenagem a ninguém menos que Raul Seixas. O repertório incluía hits como Mosca na sopa, Metamorfose ambulante e Maluco beleza. O clima raulseixista vazou para algumas de suas composições recentes, como Só que não – com Salem colocando em suas músicas tudo o que aprendeu com a obra de Raul. A quem, aliás, chegou a conhecer pessoalmente na adolescência, quando morava no Butantã.

“Eu encontrava Raul na padaria, trocava ideia com ele”, conta Chico Salem, que chegou a ouvir do compositor que enquanto soubesse tocar um instrumento nunca lhe faltaria nada. “Eu sonhava em fazer um show de musica dele. Claro que como ele já foi muito gravado, todo mundo fica receoso. Mas vi filmes, documentários, li livros. Muita gente me procurava e falava: ‘Obrigado por fazer esse show'”. Numa ocasião, Salem viu uma menina chorando na plateia por causa de uma música. Mas no camarim, conversando, descobriu que ela havia conhecido a obra de Raul com ele, Salem. “Quando você pega uma música dele de 1980 falando que ‘tá tudo pronto aqui, é só vir pegar’, você fala: ‘Não acredito que esse cara fez isso há quarenta anos!'”, afirma.

MUDANÇA

Quando começou a pandemia, Chico Salem chegou a pensar que sua produção artística ficaria parada, a espera da vacina. “Mas que vi que nada me obrigava a permanecer em São Paulo, que já é uma cidade massacrante no dia a dia normal”, conta. Ele só saiu de casa para fazer compras e para ir a seu sítio em Piracicaba, onde tem um estúdio. Em virtude disso, as produções para o próximo disco estão sendo feitas à distância, com participações de músicos como Ricardo Prado (produção), Marcelo Effori (bateria) e Estevan Sinkovitz (baixo, guitarra). “Comecei a me encorajar para fazer um disco desse jeito, e assim a gente vem fazendo. O novo álbum vai ser todo gravado nesse formato ‘de pandemia'”, conta.

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