Cultura Pop
Paul McCartney virando funkeiro (oi?) em 2013
Em abril de 2013, quando Paul McCartney ainda era um setentão (só faria 71 em junho daquele ano, enfim), começou uma discussão enorme sobre uma coisa aparentemente louca demais envolvendo o trabalho dele. O tal bate-boca era sobre se Paul iria usar ou não influências de funk brasileiro em seu disco que estava para sair naquele ano, New. Isso tudo aconteceu porque Mark Ronson, um dos produtores do álbum, tinha dado uma entrevista à Rolling Stone – reproduzida em 500 lugares na internet – em que afirmava que o cantor “apareceu tocando alguma coisa pós-Bonde do Role baile funk-moombahton, e perguntou: ‘Como conseguimos esse tipo de energia?'”.
Ronson, a bem da verdade, deu a entrevista para a Rolling Stone pensando em ver jogado pra longe o rótulo de “produtor retrô” que ele havia deixado grudar em seu nome – e estava mais interessado nisso do que em qualquer revelação sobre Paul. E também revelou que o cantor tinha tocado para ele Climax, de Usher, acrescentando que o beatle afirmou amar “onde todos os sons se encaixam nisso”. Mas para os jornais e sites brasileiros, não era o que importava: imediatamente quase todas as publicações nacionais começaram a afirmar que Paul estava se inspirando no funk carioca (ainda que fagocitado por um trio de Curitiba). Até porque o britânico New Musical Express tinha ido direto ao assunto e reproduziu também o papo de Ronson, só que afirmando que “baile funk e Usher inspiram o novo disco de Paul”.
Seja lá como for, na época eu trabalhava no jornal popular carioca O Dia, que me pediu que ouvisse funkeiros a respeito do suposto envolvimento de Paul McCartney com o funk das favelas cariocas, ou com qualquer representação dele que fosse feita pelo país. O então DJ do Bonde do Rolê, Rodrigo Gorky, me revelou que a filha de Paul, a estilista Stella McCartney, já havia usado uma música deles num desfile dela. “O Mark Ronson, eu acredito que tenha ouvido. A Lily Allen foi a shows nossos, quando ele estava produzindo o disco dela”, contou.
O DJ Sany Pitbull disse que “se Paul fizer algo com referência de funk vai ser muito bom para nós” e convidou o beatle para dançar o passinho. O saudoso Mr. Catra (morrendo de sono ao telefone) disse que estava fazendo uma versão em português de Yellow submarine, dos Beatles. Já Valesca Popozuda queria levar Paul no Complexo do Alemão para curtir um baile, e a Mulher Melão pediu: “Paul, me chama pra dançar com você. Seu show vai ficar bem melhor!”
A surpresa: Marcelo Fróes, pesquisador musical, fã dos Beatles e autor de livros como Os anos da Beatlemania, com Ricardo Pugialli, recordou que Paul já havia tido um namoro com o universo do funk, mas não fazia a menor ideia de que isso havia acontecido. “Em 1980, num lado B de single, ele lançou a canção Check my machine. Por algum motivo, essa música começou a tocar em bailes funk cariocas dos anos 1980, justificando até a EMI brasileira a relançar o single em 1986 só por causa do seu lado B. Ano passado, achei uma coletânea pirata de funk na Feira de São Cristóvão e Check my machine estava lá. Ele nem deve desconfiar disso”, contou.