Crítica

Ouvindo: Ichiko Aoba, “Luminescent creatures”

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Com shows marcados em São Paulo (dia 25 de novembro no Teatro Liberdade, e 2 de dezembro no Teatro Bradesco), Ichiko Aoba se vê mais como uma criadora de esferas e atmosferas, e nem tanto como uma compositora comum, ou uma criadora de futuros hits. Luminescent cratures, seu segundo álbum, é música para sonhar, e não necessariamente para “ouvir” distraidamente.

É mais ou menos como acontece com Myrtus myth, álbum do projeto moscovita Kedr Livanskiy, mas sem carregar nos flertes com a música pop dos quais o Kedr lançou mão em seu novo disco (resenhado aqui). Em Coloratura, a primeira faixa, dividida em duas partes, há um clima brasileiro que chega a lembrar Chovendo na roseira, de Tom Jobim. Quando a voz de Ichiko surge, tem algo que faz lembrar a voz de Jane Birkin – um sussurro que chega a parecer um gemido em alguns momentos, mas com vibe angelical, e não necessariamente sexy. Já Flag, lá adiante no disco, tem ares de Milton Nascimento – e de folk do começo dos anos 1970.

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Mas no geral, Luminescent parece mais próximo de referências de jazz, clássicos e de sons asiáticos, que aparecem em músicas como a quase valsa Tower, a meditativa 24° 3′ 27.0″ N, 123° 47′ 7.5″ E. (adaptação de uma canção folclórica da ilha japonesa de Wateruma – o título são as coordenadas para se encontrar um farol no centro da região). Surgem também na cantiga Aurora e na cinematográfica Sonar, uma canção triste, quase um post-rock. Luciférine e Pirsomnia têm algo de progressivo nas mudanças bruscas de acordes e na construção dos arranjos, baseados em pianos circulares e intervenções de cordas.

Inspirado pelas visitas dela ao Arquipélago Ryukyu, no Japão, Luminescent creatures tem muito dos sustos e das sensações mágicas pelas quais Ichiko passou ao mergulhar no local – por sinal, os mergulhos dela foram sem equipamento (!) e correndo altos riscos. Como reflexo mais da magia do que dos perigos, o disco novo dela oferece muita beleza, muita experimentação musical e a sensação de estar submerso/submersa em um sonho onde cada som revela um novo mistério.

Nota: 9
Gravadora: Hermine
Lançamento: 28 de fevereiro de 2025

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