Crítica
Ouvimos: Zélia Duncan, “Relicário (ao vivo no Sesc 1997)”
- O disco ao vivo Relicário: Zélia Duncan (ao vivo no Sesc 1997) foi gravado no dia 15 de julho de 1997 no Sesc Pompeia, durante o talk show Ouvindo estrelas, do pesquisador Zuza Homem de Mello, que trazia uma entrevista e uma apresentação. Três anos antes dessa gravação, ela havia tocado naquele mesmo local e havia sido a primeira vez em que Zélia havia ouvido o público cantar junto em uma apresentação sua.
- O show de Zélia no Sesc aconteceu após um outro show dela no Central Park, em Nova York, e uma miniturnê na Europa. Seu disco então mais recente, Intimidade, tinha acabado de ganhar disco de ouro, pelas 100 mil cópias vendidas.
- O disco de Zélia é o segundo da série Relicário, com gravações ao vivo de shows importantes realizados no Sesc. O primeiro foi João Gilberto – Ao vivo no Sesc_1998. Os álbuns são lançados com exclusividade na plataforma Sesc Digital.
Uma pena que os discos da série Relicário não estejam disponíveis em todas as plataformas digitais. Tanto o de Zélia quanto o de João Gilberto são excelentes documentos que, na época do vinil, renderiam sets duplos com pouca tiragem, lembrando momentos especialíssimos não apenas dos próprios artistas, como da história da música popular brasileira.
O álbum de Zélia flagra a cantora num momento especial: já consagrada, com disco de ouro, música em novela, público animado (no caso do registro em questão, bem animado). Mas pouco antes da era da internet, causos do começo da carreira valiam ouro e foram recordados por ela numa entrevista de 22 minutos a Zuza Homem de Mello. Zélia lembrou de sua época de cantora da noite, quando partia da Barra da Tijuca para Niterói, e, em seguida, inseriu músicas de compositores paulistanos como Rita Lee (o lado B E lá vou eu) e Itamar Assumpção (Vou tirar você do dicionário), mostrando que uma das melhores coisas do seu trabalho é parecer prescindir de tempo e espaço.
Mais ou menos como acontece com Neil Young e Joni Mitchell, cujas músicas ela lembrou, durante a entrevista, ter tocado em shows “na noite” fora do Brasil. E com Joan Armatrading, cuja Am I blue for you ela também recordou no Sesc. O repertório autoral de Zélia segue na mesma linha, unindo o tom íntimo e pessoal do bittersweet dos anos 1970 a uma MPB-pop-rock confessional, com cartas musicadas como Enquanto durmo, Não tem volta, Não vá ainda, Bom pra você e até a versão de Catedral, sucesso de Tanita Tikaram.
Gravadora: Sesc
Nota: 9