Crítica
Ouvimos: Zeal & Ardor, “Greif”
- Greif é o quarto álbum da banda novaiorquina Zeal & Ardor, projeto iniciado pelo músico Manuel Gagneux, inicialmente com a ideia de misturar black metal, soul e spirituals. “O cristianismo foi forçado para escravos afro-americanos. Eu sei que é a sua própria música, Jesus e assim por diante. Então nos perguntamos: como seria se os escravos americanos se rebelassem em suas próprias músicas? É assim que esperamos que funcione”, explicou Manuel em entrevista ao site brasileiro Blog N Roll.
- Manuel já teve um grupo de pop de câmara, o Birdmask, e conhece nomes da música brasileira, como Elis Regina, Gilberto Gil e (evidentemente) o Sepultura. Aliás, se você nunca tinha escutado falar do Zeal & Ardor, para o seu governo, eles já vieram ao Brasil e fizeram um show no Sesc Pompeia (São Paulo), em 2019 – rolou no Festival Dogma, dedicado à música de vanguarda.
O Zeal & Ardor é mais uma excelente ideia do que uma banda genial, musicalmente falando. Quem ouvir esse Greif sem ler sobre o grupo, talvez se sinta ouvindo um som que que lembra bastante uma mescla de Soundgarden, Nine Inch Nails, Danzig e até Depeche Mode. Parece em alguns momentos que, justamente pelo fato de grupos de som pesado terem passado décadas roubando elementos de spiritual, soul e blues, esse tipo de fusão necessita hoje em dia de doses mais reforçadas em alguns lados. Ou de algumas diferenciações para que o resultado final não se perca. Injusto ao extremo, inclusive.
A ideia de juntar imaginário satânico, black metal, hard rock, blues e soul desceu melhor nos três primeiros álbuns do grupo. Não custa lembrar que Manuel Gagneux, o músico suíço-americano que criou a banda, tem uma frase ótima para definir a ideologia do Zeal & Ardor: “e se os escravos americanos tivessem abraçado Satanás em vez de Jesus?”. Vale citar igualmente que, para quem curte som pesado com filigranas de experimentação musical, Devil is fine, a estreia de 2016, é recomendadíssima.
Greif, quarto disco da banda, traz mais influências de rock pesado dos anos 1990 e 2000, e de design sonoro eletrônico, do que de black metal. O disco tem de ótimo o metal funk distorcido de Thrill, o spiritual Go home my friend, o ritmo misterioso e sinuoso de Disease (fazendo lembrar um Marilyn Manson bem menos psycho). E o excelente metal construído com argamassa synth pop de Kilonova.
Já Are you the only one now, por exemplo, soa como um candidato a hino do grupo, por causa de seu refrão cantarolável – para quem já ouve som pesado há anos, parece um “já ouvi isso antes”, mas deve funcionar com o público deles. E expõe que, pelo menos em metade do álbum novo, o Zeal & Ardor ganharia bastante se tivesse criado um repertório marcado por canções com climas mais variados, já que rola de fato aquela má e velha sensação de que tudo é bastante parecido do começo ao fim do álbum.
Nota: 6
Gravadora: Independente