Crítica
Ouvimos: Wings, “Band on the run” (Underdubbed mixes)
A versão underdubbed do clássico Band on the run, de Paul McCartney e dos Wings, faz parte de um pacote comemorativo de 50 anos do disco – atrasado em algumas semanas, já que se trata de um lançamento original de 30 de novembro de 1973, e que chegou às lojas e plataformas na sexta (2). No release, Paul apresentou o novo lançamento como sendo aquele mesmo Band on the run, só que antes dos overdubs (acréscimos de gravação) serem incluídos na jogada. “Quando você está fazendo uma música e colocando partes adicionais, como uma guitarra extra, isso é um overdub, e esta versão do álbum é o oposto, subdublada”, afirmou, didaticamente.
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Não é exatamente um disco sem overdub nenhum, até mesmo por causa da maneira como os Wings funcionavam na época de Band on the run. Paul, Denny Laine e Linda McCartney, o trio básico, se revezavam entre instrumentos. Paul se dividia entre guitarra, violão, percussão, bateria e teclados, por exemplo. O que o disco traz são os rough mixes (mixagens iniciais, cruas), criados pelo técnico Geoff Emerick, mostrando quase sempre como as músicas foram concebidas originalmente no estúdio da EMI na Nigéria.
Há exceções na fonte. Jet, por exemplo, não foi gravada na Nigéria: foi totalmente gravada após a turma voltar de Lagos, durante sessões em Abbey Road, em Londres. A curiosidade é, no fim da faixa, Paul aparecer cantarolando as notas que seriam tocadas depois por uma trupe de saxofonistas. Picasso’s last word (Drink to me), a mais fraca e longa de Band on the run, foi gravada no estúdio de Ginger Baker, ex-baterista do Cream, que vivia na Nigéria por aqueles tempos. Mas detalhes históricos à parte, a pergunta crucial é: isso aí funciona ou é só um souvenir maluco de relançamento?
Resposta: é um souvenir maluco de relançamento, mas funciona às vezes – agora, mais por valer como curiosidade do que por qualquer outro motivo. Band on the run, a faixa-título, perdeu a orquestra, ganhou um tom mais acústico do que elétrico, e ganhou também os vocais iniciais (bem desafinadinhos, acredite) de Paul. Mamunia ganhou um ar mais tribal, dado pela percussão e pelos silêncios. A beleza de Jet transparece mesmo sem os metais. Bluebird e Mrs. Vanderbilt perderam detalhes e o peso das gravações originais, e as novas-velhas mixagens não têm muito o que acrescentar. Let me roll it parece ter saído quase completa das primeiras mixagens, diferindo só por alguns ruídos e ecos nos vocais. Já a magistral Nineteen hundred and eighty five… bom, ela comparece sem orquestra e sem vocais (e evidentemente isso soa como brincadeira sem graça).
Talvez para seguir o esquema original de gravação/mixagem, o Band on the run subdublado vem com as faixas em ordem diferente. Fica parecendo com aquelas antigas edições em fita K7 que alteravam a ordem das músicas e davam uma estragada básica na experiência de audição. É uma nova maneira de ouvir o disco, mas você vai preferir ouvir o original mesmo. Aliás esse disco foi lançado só para você querer reouvir o original, e comprá-lo de novo.
Gravadora: MPL/Universal
Foto: Reprodução da capa do álbum.
Nota: 7