Crítica
Ouvimos: Wilco, “Hot sun cool shroud” (EP)
E não é que a febre dos EPs pegou tardiamente o Wilco? O grupo norte-americano nunca foi de falar pouco: sempre preferiu discos de tamanho considerável, a ponto de já ter lançado um álbum duplo como segundo disco, Being there (1996). Disquinhos pequenos, na história da banda, eram lançamentos complementares, que muitas vezes só serviam como uma bossa entre um disco e outro.
Hot sun cool shroud já é outro papo: como um mimo pré-Solid Sound (festival da banda) para os fãs, o Wilco selecionou sobras de gravações recentes e criou um disco pequeno que serve mais como um LP curto do que como um lançamento de entressafra. O grupo já havia retornado com seu lado mais roqueiro e menos folk em seu disco de 2023, o razoável Cousin. Dessa vez, investem no indie folk quase dançante de Hot sun, com mudanças bruscas de tom e surpresas escondidas na melodia. E que surge alternado com o ruído quase punk da instrumental Livid, seguido com o clima meio Neil Young de Ice cream, e com uma espécie de grunge folk, Annihilation, que lembra o começo do grupo.
No final, os violões e percussões da cigana Inside the bell bones, e o baladão de AM pervertido Say you love me, tudo demonstrando que há vários Wilcos dentro de um só. Em termos de letras, o grupo permanece um herdeiro da poética de Bob Dylan e do tom desesperado de Morrissey, Ian McCulloch e outros nomes, misturando paixões barra-pesada (Annihilation, a desencantada Ice cream) e uma espécie de paixão existencialista (Say you love me). Hot sun traz dúvidas ecológicas de Jeff Tweedy, líder do grupo, a serem respondidas pelos fãs. Um disco melhor e mais conciso que muitos álbuns mais recentes da banda.
Nota: 8
Gravadora: dBpm records