Crítica
Ouvimos: White Denim, “12”
- 12 é o (adivinhe só) décimo-segundo álbum da banda norte-americana White Denim. James Petralli, criador do grupo, começou a escrever o álbum assim que saiu o anterior, Raze regal & White denim Inc, em novembro de 2023.
- O processo de criação do álbum, e de outros side projects de Petralli, foi registrado numa newsletter assinada por ele. Algumas demos e esqueletos de canções foram divulgadas por lá.
- “Neste disco, há muitas bandas, às vezes na sala comigo, às vezes a quilômetros de distância em uma colaboração remota, e esse processo abriu muitas possibilidades para mim”, diz Petralli, que teve mais oito pessoas (entre convidados e parceiros) como colaboradores.
O White Denim já foi selvagem sem deixar de ser belo. Um encontro entre slacker rock, psicodelia e punk que, além de impressionar, deixava todo mundo na dúvida sobre qual seria o próximo passo, sobre o que estaria até mesmo na próxima música do disco, ou nos próximos minutos da mesma faixa. Desse período, vá sem medo ao primeiro álbum, Workout holiday (2008), um disco que deixaria Kevin Ayers orgulhoso de seu legado.
Se você achou que iríamos usar o velho truque de citar um disco da antiga em comparação com o novo apenas para depreciar a fase nova, enganou-se – 12 é mais do que apenas uma evolução, é uma aula de como fazer música de embevecer. O White Denim, sempre liderado pelo criativo James Petralli, volta numa mescla de psicodelia, jazz rock, yacht rock, bossa psicodélica, power pop, soul e folk mágico, com um resultado tão variado que dá vertigem. Há coisas que lembram Beach Boys e Monkees, há até um aceno às trilhas que Vince Guaraldi compôs para o desenho do Snoopy (Your future as god, que por pouco não lembra também um Gentle Giant dançante).
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Do repertório de 12 faz parte o jazz-rock lisérgico de Light on – cuja letra tem uma mensagem “positiva” que, justamente por unir várias situações desagradáveis (“cara, às vezes é difícil permanecer vivo/tão difícil dormir sozinho à noite/muitas pessoas vão espalhar algumas mentiras/muitas mais vão usar disfarces”) e apelar para a resiliência, parece até brincadeira. Por acaso, esse clima de ironia x seriedade aparece algumas vezes no álbum. A balada 60’s Flash bare ass começa fazendo uma brincadeira em que fãs encomendam trabalhos a artistas, para depois concluir “posso dizer que você será real/tentando ser alguém de quem gosta/o trabalho é mais difícil do que parece/você vai botar a bunda na janela em plena luz do dia”.
Do começo ao fim, a variação de 12 inclui um folk suingado e experimental que cheira a bandas como Aztec Camera e Crowded House (Swinging door), rock entre folk e power pop com uma batida jazzística que confunde ouvidos (Econoling), indie disco (Look good) e coisas que lembram a fase A wizard, a true star de Todd Rundgren, como em I still exist e We can move along. Precious child, por sua vez, é um soul que lembra Cassiano e Stevie Wonder – este, especialmente nos vocais. Second dimension parece um desdobre indie e estranho da fase 80’s dos Doobie Brothers, com direito a solinho de synth.
Uma surpresa bem, digamos, sui generis em 12 é Hand out giving. Uma canção que parece falar sobre amizade, que abre como uma balada com toques folk e chega a lembrar bandas como Journey (!) e que… bom, acho que não precisava chegar a tanto. Mas levando em conta o que é o universo do White Denim, faz sentido.
Nota: 9
Gravadora: Bella Union.
Lançamento: 6 de dezembro de 2024.