Lançamentos
Ouvimos: “What matters most”, de Ben Folds
- What matters most é o quarto disco solo do norte-americano Ben Folds. Ele tem também mais quatro álbuns com seu trio Ben Folds Five (se você nunca prestou atenção, não era um quinteto).
- O disco é o primeiro lançamento de Ben Folds pela New West Records, um selo criado em 1998 por um insider da indústria fonográfica, Cameron Strang, “para artistas que executam música real para pessoas reais”. Por quatro anos, no começo do selo, Cameron foi um faz-tudo da própria empresa: gravava, mixava e fechava negócios.
- “Há uma vida inteira de arte e experiência focada neste álbum”, diz Ben, que acredita que What matters most é o disco “mais verdadeiro” de sua carreira.
- Ben não lançava discos inéditos desde 2015, quando saiu So there, gravado ao lado do yMusic Ensemble. No hiato de álbuns novos, lançou um podcast, um livro de memórias e virou conselheiro artístico da National Symphony Orchestra.
Ben Folds declarou que queria que o ouvinte encerrasse a audição de What matters most “tendo algo que ele não tinha quando começou”. É uma frase que pode se estender a boa parte de sua discografia, repleta de discos de caráter transformador, por causa das lindas melodias, dos mergulhos ao piano e das letras que você tem certeza que caberiam numa trilha sonora – quem sabe na trilha sonora de sua própria vida, ou de outra pessoa que você conhece. É uma frase que cabe bem no álbum novo, enfim.
A pandemia e o resgate da simplicidade, das relações verdadeiras, são os verdadeiros temas de What matters most, cabendo um inventário de novas descobertas na faixa de abertura, But wait, there’s more, com tecladinhos que se assemelham a ruídos de telefone (internet discada?) e vocais na onda dos Beach Boys. Clouds with ellipses é uma das baladas de piano típicas de Ben, com cordas e vozes trabalhados (participação da inglesa dodie nos vocais). Dançante e introvertida simultaneamente, Exhausting love relata um date catastrófico e retoma o lado menos melancólico da estreia solo Rockin’ the suburbs (2001). A meditativa e alegre Paddleboat breakup evoca um amor encerrado abruptamente em alto mar. Winslow gardens, num arranjo mais pesado, caberia em Quadrophenia, do Who, ou num disco do Jam.
Já a quase valsa Kristine from the 7th grade fala sobre os reencontros frustrados com uma ex-colega de colégio que pulou para o lado do negacionismo. A letra mexe com o imaginário do absurdo, escrito por alguém que recebe e-mails (no Brasil seriam mensagens do Whatsapp) fazendo propaganda antivacina e pró-obscuridade: “A raiva, as letras maiúsculas/e toda a pseudociência/os erros ortográficos, eles devem ser de propósito”, escreve Ben. Não é uma das melhores faixas do disco, mas sua presença posiciona o álbum como material histórico. E Ben Folds faz seu próprio inventário do período sem discos novos no belo country de piano Back to anonymous, em meio a guitarras slide. Um grande retorno.
Nota: 9